2025-01-24
O que mudou em Portugal após 5 décadas de Democracia?
8 mini-documentários que mostram a transformação de Portugal nos últimos 50 anos, em áreas como a família, os direitos das mulheres, a economia, a cultura, a educação e o mercado de trabalho ou a saúde.

Na década de 70, Portugal apresentava um retrato social muito diferente, marcado por desafios significativos. Era um país onde apenas 5% dos jovens em idade escolar estavam matriculados. Hoje, a escola é para todos, mas a par disso, cada vez mais jovens portugueses optam por deixar o país e os que permanecem em Portugal têm dificuldade em ver refletido nos salários o valor das suas qualificações. Já as famílias eram de muitos filhos e com uma hierarquia rígida de autoridade – do marido face à mulher, dos pais face aos filhos. Em 1979 é criado o Serviço Nacional de Saúde, alterando o padrão das condições de saúde em Portugal. Se olharmos para a Cultura, com o fim da censura, o país abriu-se ao mundo: chegam novos livros, filmes e todo o tipo de artes. Alguém se lembrará de que, há poucas décadas, o sábado era o dia de visitar o centro comercial e todos víamos os mesmos programas?
Estes mini-documentários seguem a avassaladora mudança verificada em Portugal nos últimos 50 anos, depois da chegada da democracia. Mostram a transformação em áreas como a família, os direitos das mulheres, a economia, a cultura, a educação ou a saúde. Cinco décadas que moldaram o país que conhecemos hoje.
Assista aos episódios em baixo!
8º Episódio - E depois da revolução: Hábitos Culturais
Cinco décadas de democracia revolucionaram os hábitos culturais em Portugal. Terminada a censura, o país abre-se ao mundo, chegam novos livros, filmes e todo o tipo de artes. A música afirma-se como uma arte de grande difusão e consumo. Se antes do 25 de Abril o fado, a música ligeira e a canção de intervenção eram os géneros que mais marcavam a sociedade portuguesa, a década de 80 traz o rock e a pop em português. Mas o fado regressa – com o reconhecimento deste género como Património Imaterial da Humanidade, em 2011. A par disso, os festivais – com o pioneiro Vilar de Mouros, no final dos anos 60 – tornam-se nos mais importantes eventos culturais de verão.
No teatro, o género Revista perde terreno até praticamente desaparecer, enquanto Filipe La Féria tem sucessos no Teatro Musical. Novos grupos e companhias são criados e os repertórios abrem-se à diversidade de autores nacionais e internacionais, dos mais clássicos aos mais malditos. As novas gerações estão a aproveitar a mudança?
Em 50 anos, longe vão os tempos de um país que ao domingo era marcado pela missa de manhã e o futebol à tarde. A Expo 98, a maior festa coletiva na história cultural dos últimos 50 anos, tem sido apontada como um ‘ponto de viragem’ na descoberta e vivência do espaço público.
Também na televisão, a transformação acontece. 1992 sinaliza a chegada do primeiro canal privado, a SIC, e pouco depois a TVI. A oferta multiplica-se e a tecnologia – televisão por cabo e Internet – traz novas possibilidades. Os hábitos de consumo cultural alteram-se profundamente. O surgimento de grandes distribuidores de conteúdos culturais e artísticos como o Youtube e a Netflix e o acesso em qualquer momento nos computadores, nos smartphones e nas smartTV, alteraram a convivência em casa e segmentaram os consumos das famílias. Seguem-se as redes sociais: Facebook, Instagram, Tiktok e outras plataformas que dominam os novos tempos.
No futuro, como se conjugará a presença física com a presença digital? Que liberdade e diversidade existirá para além da escolha ditada pelo algoritmo? E ainda alguém se lembrará de que, há poucas décadas, o sábado era o dia de visitar o centro comercial e todos víamos os mesmos programas? Este documentário segue a avassaladora mudança verificada nos últimos 50 anos depois da chegada da democracia.
7º Episódio - E depois da revolução: Família
Nos anos 70, Portugal era um país com famílias de muitos filhos e com uma hierarquia rígida de autoridade – do marido face à mulher, dos pais face aos filhos. Atualmente, as famílias são mais pequenas, mais diversas e também mais igualitárias. O que mudou em 50 anos?
Os avanços científicos permitiram um maior controlo da fecundidade e massificou-se o uso de contracetivos, com a pílula em destaque. Foram também introduzidas as consultas de planeamento familiar, potenciadas por uma mudança social e cultural em que a mulheres passam a ser mais independentes.
O ano de 2015 marca também uma viragem. É a partir dessa data que o número de nascimentos bebés ocorridos fora do casamento de pessoas não casadas ultrapassa o dos nascimentos ocorridos dentro do casamento. É o fruto da generalização das uniões de facto e de uma sociedade menos influenciada pela doutrina da Igreja Católica. Há ainda o aumento do número de divórcios e, em paralelo, o crescimento do número de famílias monoparentais, recompostas ou homoparentais.
No plano das liberdades e garantias, os casais homoparentais veem ser reconhecido o direito ao casamento em 2010. Daí em diante, têm vindo a conquistar novos direitos, incluindo o da adoção. Tudo conjugado, e hoje Portugal é muito diferente na composição dos seus agregados familiares, comparado com o que sucedia era há 50 anos. Porque mudou tanto?
6º Episódio - E depois da revolução: como evoluiu a saúde?
Como é que a esperança média de vida aumentou tão significativamente, em Portugal, nos últimos 50 anos? A melhoria das condições laborais e do rendimento, assim como a democratização da habitação com água canalizada e saneamento básico, explicam a uma parte da evolução.
Estas condições sociais, a par da criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), em 1979, e da entrada na então CEE, em 1986, alteraram o padrão das condições de vida e saúde em Portugal. Prova disso foi a drástica diminuição da mortalidade infantil, parâmetro em que Portugal rapidamente ultrapassou boa parte dos países mais prósperos e desenvolvidos do mundo.
Apesar destes e de outros progressos, há uma doença que se mantém no primeiro lugar das causas de morte – as doenças do aparelho circulatório, nomeadamente tromboses e acidentes vasculares cerebrais. Porquê?
Neste documentário encontramos algumas das razões para esses resultados – desde logo o facto de Portugal ser o campeão da inatividade física e do sedentarismo, na Europa. Mas outros problemas agravam o estado geral da saúde dos portugueses: o país está no topo dos países da União Europeia com maior consumo de antidepressivos e com mais elevada percentagem de população com perturbações de saúde mental – 22% contra 16,7% da média da UE, segundo o relatório de 2023 da OCDE.
No início da década de 1970, Portugal era um país onde um em cada quatro portugueses não sabia ler e apenas 5% dos jovens em idade escolar estavam matriculados. Em cinco décadas de democracia quanto se alterou?
A Educação é uma das chaves do desenvolvimento dos países e Portugal é um caso de sucesso no que toca à democratização do ensino e ao aumento sustentado das qualificações da população.
50 anos depois, a escola é para todos, embora nem todos partam do mesmo sítio ou com as mesmas condições. A par disso, cada vez mais jovens portugueses optam por deixar o país e os que permanecem em Portugal têm dificuldade em ver refletido nos salários o valor das suas qualificações. Um tecido empresarial assente em pequenas e médias empresas, com baixa produtividade, continua a pagar salários baixos e a manter o país na cauda da Europa.
Este documentário deixa ainda na linha do horizonte um dos pontos críticos do sistema educativo: a falta de professores. Se em 1974 o país tinha 70 mil docentes nas escolas, entretanto, o número mais do que duplicou – hoje são 150 mil. Mas muitos estão à beira da reforma e os que ficam não chegam. Renovar a classe docente é um dos grandes desafios para o futuro da Educação dos próximos 50 anos.
4º Episódio - E depois da revolução: como evoluiu a economia?
Existe a ideia de que Portugal vive numa permanente crise económica. Não é bem assim. É verdade que o país atravessou sete crises nos últimos cinquenta anos, mas são inegáveis os grandes desenvolvimentos da economia nacional, a começar pelo aumento das qualificações da população e acabando no recorde das exportações, que atingiram 50% do PIB em 2022.
Este episódio mostra as principais caraterísticas da economia em democracia: um forte peso inicial do Estado, a posterior abertura ao exterior, e a estagnação do crescimento económico após a década de 90, quando se pensava que Portugal iria continuar a convergir com os seus parceiros europeus.
Num momento em que é fundamental escolher bem onde investir recursos, alguns dos melhores economistas e gestores portugueses analisam possíveis soluções para fazer crescer a economia, aumentar a produtividade e os salários e, assim, reter talento em Portugal. Um desafio preponderante para os próprios 50 anos da nossa democracia.
3º Episódio - E depois da revolução: somos mais ou menos?
A população residente em Portugal é atualmente composta por cerca de 10 milhões de habitantes. Mas foi sempre assim? A população é uma entidade dinâmica que reflete diferentes movimentos de entrada (nascimentos e imigração) e saída (mortes e emigração). Nos últimos 50 anos, importantes acontecimentos históricos tiveram impacto na política e na economia portuguesa, mas também na sua estrutura social. Assistimos a importantes variações demográficas, desde o declínio da natalidade ao aumento da esperança de vida, da acentuada emigração na década de 1960 a uma forte imigração após a independência das colónias portuguesas, que foram alterando o tecido populacional e o número de residentes em Portugal.
Quantos somos? Onde vivemos? E qual a tendência para os próximos anos? O país tem hoje mais habitantes do que em 1974, apesar de ter perdido 200 mil residentes na última década e está também mais envelhecido e fortemente concentrado nas grandes cidades do litoral. Há mais mortes que nascimentos e os índices de fecundidade são bastante mais baixos. Tais fenómenos acarretam desafios e adaptações, expostos e dissecados neste episódio por alguns dos melhores especialistas no estudo da população.
2º Episódio - E depois da revolução: o que conquistaram as mulheres?
Não podiam votar em pé de igualdade. Não podiam sair do país sem autorização do marido. Não podiam ser magistradas nem diplomatas. Nem tão pouco enfermeiras se fossem casadas. Se a ditadura era limitativa para todos, para as mulheres, em particular, era um regime que as reduzia à condição de mães e donas de casa. O 25 de abril de 74 trouxe promessas de igualdade de género. As mulheres passaram a ser livres para fazer as suas escolhas e desafiaram as regras. Tornaram-se governantes, juízas, passaram a conduzir camiões e a trabalhar nas obras. Passaram a estar em maioria na universidade e a contar com direitos sexuais e reprodutivos que lhes deram o poder de decidir as suas vidas.
As mulheres continuam a ganhar menos do que os homens pelo mesmo trabalho, estão menos representadas no Parlamento e na administração de grandes empresas e também em profissões ligadas à ciência e à tecnologia. Trabalham mais horas, principalmente nas tarefas domésticas e de prestação de cuidados à família.
Através do testemunho de mulheres (e também de alguns homens) que lutaram pela promoção da igualdade de género, este documentário acompanha as maiores conquistas feitas no feminino ao longo das últimas cinco décadas, enquanto apresenta os desafios e as maiores urgências para alcançar a desejada igualdade.
1º Episódio - E depois da revolução: que democracia construímos?
Votar é muito mais do que marcar uma cruz num boletim. É uma decisão que molda o futuro e uma obrigação para com o passado. Um passado que restringia a liberdade de expressão, perseguia os críticos e impedia os cidadãos de escolher os seus representantes.
A democracia nasceu a 25 de abril de 1974, há 50 anos. Demorou décadas a amadurecer. É um processo inacabado. Mas as conquistas foram imensas: o fim da censura, os direitos civis e a entrada na União Europeia. A democracia consolidou-se, sabendo superar períodos de intensa crispação política, como o PREC, e manteve-se firme, mais recentemente, mesmo perante o aparecimento dos populismos.
Mas os desafios são muitos. A abstenção tem aumentado, há um desencanto provocado pelas suspeitas de corrupção na política e ainda indicadores que mostram pouca participação cívica. Estará a democracia em crise? E, caso esteja, o que pode ser feito para a melhorar?