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Da Weasel num carrossel de emoções

Ótima rodagem para um primeiro concerto em muitos anos.

Da Weasel num carrossel de emoções

É tentador colar o lema do NOS Alive de melhor regresso de sempre à reaparição dos Da Weasel, que finalmente se materializou, num concerto de hora e meia repleto de emoções, no Palco NOS.

Às 21h00, quando subiram pontualmente ao palco, tinham um enorme processo de descompressão de nervosismo pela frente. 'Loja (Canção do Carocho)' foi o primeiro tema posto à prova, quando as pernas ainda tremiam, incluindo no ansioso público, que estava em força para os apoiar.  

Com o concerto ainda no início, 'Força (uma página de história)' sublinha a bicefalia no MCing de volta, com Virgul e Carlão a completarem o que cada um tem para dizer. A hibridez dos Da Weasel é ouro e, em 'Duía', essa hibridez vira-se para o reggae. O olfacto também sente essa música e são vários à volta da arena que puxam de produtos herbáceos para a fumarada. Quando a vista ainda estava meio-turva, DJ Glue serve umas pratadas e todo o pessoal olha para ele antes de 'Jay', aprimeira erupção rockeira da atuação. Carlão deita a língua de fora e abre os olhos, no primeiro sinal de felicidade. Os sorrisos na banda vão aumentando à medida que o concerto vai correndo bem. 

À oitava música do alinhamento, 'Dialectos da Ternura', é a vez do público aparecer, a cantar o refrão simples com Virgul. Sempre que há hardcore, como no torpedo célere de 'Bomboca', os irmãos Nobre aproximam-se, com Carlão agachado junto a Jay-Jay, a extrair tudo o que tem de furibundo da alma. 

Entra-se depois num dos momentos mais fortes do espetáculo, com melancolia e arrastamento. Manel Cruz estava no recinto (com concerto mais tarde no Palco Heineken) mas aqui aparece virutalmente no ecrã, a cantar 'Casa (Vem Fazer de Conta)', com o amigo Carlão a esbracejar na sua direção. A melancolia ainda se torna mais intensa, vinda de algum recanto africano do fundo da alma de Virgul, quando faz a sua parte cantada em 'Mundos Mudos', enquanto Carlão se torna mais místico e fica a olhar para os céus, talvez em jeito de agradecimento por aquilo que estava acontecer naquele palco, naquele momento das suas vidas. 

A panóplia prosseguia variada. Em 'Niggaz', voltam a puxar pelo som pesadão dessa coisa chamada rap-metal. Noutra onda, Virgul persiste em ser o mais jamaicano, dando o seu show de dancehall em 'O Puro'. 'Outro Nível' é mais um momento de loucura coletiva. 

Virgul era o mais comunicativo com o público, avisando que vinha aí "a recta final" e, mais adiante, que "isto pode ser a última vez". Em 'Re-tratamentos', parte substancial do público cresce em altura, às cavalitas de outros, criando-se depois um momento à capela entre Virgul e os espectadores, sempre com a evocação à Margem Sul e à terra-natal de Almada. 

Prosseguem os êxitos com 'Toda a Gente' e, como consequência, mais outra ondulação de braços. Neste rol de emoções, Carlão aproveita o tema 'Toque Toque' para percorrer o fosso central, onde estavam sentados os filhos dos membros dos Da Weasel, pegando ao colo uma das sua filhas.

Quando os Da Weasel gritam 'Adivinha Quem Voltou', fazem-no com um sorriso maroto, porque é evidente que todos sabemos a resposta. E é neste crescendo de adrenalina e nesta viagem aos primórdios dos Da Weasel que é apanhado o mais durão 'God Bless Johnny', ainda com os resquícios a quente dos Braindead, onde militava o baixista Jay-Jay (também conhecido como João Nobre). Na derradeira música, 'Tás na Boa', a arena da mosh alarga mais uns metros quadrados. 

No final, quando os Da Weasel foram agraceder ao público no corredor central do palco, era visível os rostos emocionados dos seis membros. Após três anos de preparação e de adiamentos, e de uma carreira de duas décadas antes, o concerto de regresso concluía-se. 

Ao final da tarde, os Da Weasel deram uma conferência de imprensa, onde falaram de uma biografia autorizada da banda que será publicada no próximo ano. Quando se perguntou por concertos próximos, a resposta, vinda de Jay-Jay, foi humorada: "só fazemos declarações depois do jogo". O futuro dos Da Weasel está em aberto, portanto. Agora, venha o grogue de que falou Virgul na conferência de imprensa. Há motivos para celebrarem.   

 

Enquanto se descarregavam emoções fortes junto ao Palco NOS por causa do regresso feliz dos Da Weasel, na outra ponta do recinto, junto ao Palco Heineken, havia um cenário estrelado com um livro de fábulas a ser folheado, no concerto de estreia de Phoebe Bridgers em Portugal. Os muitos meses de estrada com o seu quinteto fazem-se sentir na música ao vivo coesa, de matéria rock mas de alma folk.

A grande ovação na parte final, após o tema 'Graceland Too', levou a cantora norte-americana a cumprir o ritual de aceitar um pedido do público que, pelo momento inusitado, a obrigou a estar sozinha em palco para facilmente se manobrar na interpretação acústica de 'Me & My Dog', do reportório do seu supergrupo Boygenius.

Outro ritual que se cumpriu nesta atuação de Phoebe Bridgers foi o encerramento ao som de 'I Know the End', com o scrapbook do cenário atrás a abrir-se novamente. É já com a casa do livro em chamas que irrompe uma festança rocker, com Phoebe Bridgers em exaltação de alegria, com a sua pequena corte de cowboys a invadir-lhe o palco. Foi impressionante também a partipação calorosa do público, a provar a popularidade cada vez maior de Phoebe Bridgers, um dos grandes nomes indie dos tempos que correm. 

 

Quanto ao espetáculo dos Imagine Dragons no Palco NOS, a estrela principal foi mesmo o ginásio de musculação de Dan Reynolds. Qualquer que ele seja, certamente está a fazer um bom trabalho, olhando para a dimensão musculada dos braços e do peito do vocalista da banda, que faz dele um autèntico Hércules. Consciente deste inchamento corporal, Dan Reynolds fez questão de mostrar o seu físico de super-herói na sua camisola de alças de tecido aberto, embora o guarda-roupa, de calções domésticos e de meias puxadas com sapatinhos, fosse mais digno de um churrasco no quintal do que de um concerto de rock.

Mas Dan Reynolds estava demasiado saltitante para fazer demonstrações de culturismo. Simpático e empenhado, fez um discurso agregador pela música e umas coisas assim. 

Quanto maior o êxito do grupo, maior era o arsenal de pirotecnia. Tendo em conta que 'Believer' foi logo a segunda música do alinhamento, com a trupe de fotógrafos ainda presente no fosso, o susto pode ter sido valente para os profissionais, mesmo que os riscos possam ser calculados.

Havia muitas crianças presentes na multidão para os ver. Dan Reynolds sabia certamente disso e por essa razão dedicou-lhes 'It's OK', antes de os aborrecer com um discurso moralista sobre a vida. Não é certo que os miúdos tenham percebido assim muito bem aquela breve aula de catequese de minuto e meio, mas certamente que compreenderam dez minutos depois o tema 'Enemy', bastante vivido e com direito a mais umas chamas. 

A versão de Forever Young dos Alphaville foi dedicada por Dan Reynolds ao povo da Ucrânia, com a bandeira amarela e azul do país invadido e massacrado a ser erguida e enrolada no seu corpo. O concerto de hora e meia dos Imagine Dragons fechou ao som do incontornável 'Radioactive'. "Amamo-vos Lisboa, obrigado por nos fazerem sentir em casa", disse em jeito de agradecimento Dan Reynolds. 


Fotos em baixo dos Two Door Cinema Club, que fecharam o Palco NOS.