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Música clássica e ruído branco não melhoram as funções cognitivas

Ruído branco pode até piorar desempenho, dizem especialistas.

Música clássica e ruído branco não melhoram as funções cognitivas

No passado, muitos neurocientistas investigaram o potencial valor terapêutico da música clássica e outros tipos de música ou sons para aliviar alguns dos sintomas associados a diferentes distúrbios neuropsicológicos. Embora alguns estudos tenham sugerido que ouvir música clássica e ruído branco pode melhorar a função cognitiva, esses efeitos ainda são pouco compreendidos.

Investigadores do Instituto Monash Medicine Discovery e da Universidade Monash, na Austrália, realizaram recentemente um estudo onde é explorado, especificamente, a possibilidade de que a música clássica e o ruído branco possam afetar positivamente a capacidade de processamento de informação conflituosa das pessoas. No entanto, as descobertas publicadas na Frontiers in Neuroscience sugerem que esses dois estímulos auditivos não têm benefícios para essa função cognitiva específica.

O investigador Alexander J. Pascoe à Medical Xpress afirmou que "para compreender melhor como o processamento de certas propriedades acústicas pode influenciar o processamento de conflitos, tivemos uma grande amostra de estudantes de graduação a realizar o Stroop color and word test (SCWT) em três ambientes diferentes: música clássica, ruído branco e silêncio." Acrescentando que 2devido às diretrizes da pandemia e à necessidade de executar o ensaio remotamente, os participantes também concluíram o teste de classificação de cartões de Wisconsin (WCST), para que a confiabilidade e a consistência dos dados adquiridos pudessem ser avaliadas."

Os 67 estudantes que participaram no estudo foram solicitados a completar dois testes diferentes (ou seja, o SCWT e o WCST) em silêncio, ouvindo ruído branco ou música clássica.

O SCWT é um teste neuropsicológico amplamente utilizado que avalia a capacidade de uma pessoa de processar estímulos específicos enquanto apresenta atributos de estímulo conflituosos. normalmente envolve nomear a cor das fontes, mesmo que essas fontes sejam usadas para soletrar palavras de cores inconsistentes (por exemplo, verde, vermelho, azul).

O WCST é outro teste frequentemente usado para medir o funcionamento executivo, particularmente o raciocínio abstrato das pessoas e as habilidades de flexibilidade cognitiva. Neste teste, as pessoas são solicitadas a combinar cartas diferentes com base numa "regra" que é desconhecida para elas e que muda várias vezes durante o exercício.

Devido às restrições do COVID-19, cada um dos participantes completou os testes SCWT e WCST em casa sob as três condições acústicas diferentes com cada uma das três tentativas separadas em pelo menos três dias. 

Alexander J. Pascoe afirma que "descobrimos que o ruído branco, mas não a música clássica, aumentava a diferença de tempo de resposta entre tentativas congruentes (baixo conflito) e incongruentes (alto conflito), prejudicando o desempenho. Os resultados do WCST indicaram que a recolha de dados em casa era confiável, replicando um nível de desempenho relatado noutros ensaios anteriores em laboratório. Ambos os estímulos auditivos foram reproduzidos numa intensidade semelhante, portanto, os efeitos dissociáveis ??podem ter resultado de diferentes respostas emocionais dentro dos participantes, onde o ruído branco, mas não a música, provocou uma resposta negativa."

Essencialmente, os resultados recolhidos por Alexander J. Pascoe sugerem que nem a música clássica nem o ruído branco levaram a uma melhoria na capacidade dos participantes de processar estímulos conflituosos (ou seja, não levaram a melhores desempenhos no teste SCWT e WCST). O ruído branco, no entanto, pareceu afetar negativamente o desempenho dos participantes, dificultando o processamento de estímulos conflituosos.

No artigo publicado por esta equipa lê-se "integrado com a literatura anterior, as nossas descobertas indicam que, fora das mudanças no tempo e na valência, a música clássica não afeta as funções cognitivas associadas ao processamento de conflitos, enquanto o ruído branco prejudica essas funções de maneira semelhante a outros "fatores de stress" e, portanto, são ncessárias mais pesquisas antes da sua implementação nos cuidados neuropsiquiátricos."

O trabalho recente dessa equipa de investigadores oferece novos insights valiosos sobre os efeitos da música e do ruído branco numa função cognitiva específica, ou seja, a capacidade de processar informações. No futuro, este estudo pode inspirar outras equipas a explorarem mais esses efeitos ou avaliar o impacto desses estímulos auditivos noutros processos cognitivos.