Apresenta-se como um "romance que vira tudo do avesso, numa linguagem frenética, desprovida de regras e carregada de inconformismo". Um livro que desfia histórias pesadas, desejos escondidos de mulheres fortes que, embora de décadas bem diferentes, enfrentam desafios muito semelhantes. Uma realidade "chocante" para a autora.
Gula de uma Rapariga Esquelética de Amor é o primeiro romance de Gabriela Relvas, que em 2019 lançou a "Ilha da Formiga", um livro de crónicas autobiográfico. Este novo livro "surge como uma necessidade. Uma necessidade de contar, contar coisas, histórias próximas e ficcionadas. Demorei dois anos a escrevê-lo e quase enlouquecia no segundo."
Sobre o ponto de partida, diz que sempre soube o que queria fazer que era um "hino à mulher. Falar de coisas que continuam a existir e que têm de ser mudadas, como a mulher 'troféu', a mulher controlada, a mulher que não consegue satisfazer os seus desejos sexuais". É um livro maduro, que fala de mulheres e dos seus desejos mais escondidos, que "fala também de violência doméstica, psicopatia, alcoolismo, mas também tem um lado diferente, dedicado à dor. Mas, sobretudo, fala de uma mulher que procurou o amor num sítio errado, que fez escolhas erradas e com a qual muitas mulheres se identificam."
Para já, Gabriela Relvas sente que tudo o que está a acontecer em relação ao livro é "uma consumição, uma consumição boa. Não estava nada à espera disto que está a acontecer, tanta gente a mandar mensagem e mensagens de voz de escritoras com um cuidado e a falar-me do livro e de frases que sublinharam. Emociona-me muito claro, isto deu muito trabalho."
Ora, e quem melhor que a própria Gabriela Relvas, para levantar um pouco mais o véu sobre a obra? Para ouvir:
O LIVRO
Era uma vez uma rapariga esquelética de amor, um isco de ingenuidade gordo de antíteses. Era uma vez uma pintora que encostou os pincéis para escarafunchar uma trama de segredos que emergem da mente (ou da vida).
"Ninguém nos prepara para isto, nem o Júlio calado, nem as lágrimas da Cristina, nem a Odete nua no whisky, nem a sola de madeira no osso, as coisas que nos espantam pouco nos imunizam. É como se viver fosse uma prescrição para pessoas mal preparadas, as bem preparadas não as conheço, serão almas que já aqui andaram e que agora nos veem e troçam de nós de perna cruzada no sofá enquanto passamos o chão a esfregona, fantasmas que penetram a parede da sala para dar à cozinha, abrem a porta do frigorífico e riem da marmelada que não solidificou, cacarejam ao ver o cu de quem metemos na cama, que do nosso já não conseguem rir, e bocejam esta frase pronta a causar dano, Ao que tu chegaste.
Aquela noite veio a revelar-se na minha mais incompreensível inaptidão.
Sara Branco Bizarro, personagem principal da história, pinta retratos rápidos de uma trama de segredos que emergem dos lugares mais recônditos da sua existência, numa narração insaciável. Gulosa, a rebentar, ainda que vazia; um isco de ingenuidade gordo de antíteses. Prestes a fazer 42 anos, circula no passado por necessidade, põe na mesa a criança que viu o que não devia ter visto.
Um livro vertiginoso e poderoso sobre o que, por vezes, custa ser mulher.
A AUTORA
Gabriela Relvas nasceu no Porto em 1983. Licenciou-se em 2005 em Comunicação Social, na Escola Superior de Educação de Coimbra, seis meses dos quais em Groningen, na Holanda, para integrar o programa Campanhas de Comunicação Criativa.
Formou-se como atriz no ano seguinte, após o curso intensivo de Formação de Atores, na In Impetus, em Lisboa.
Viveu na capital mais de duas mãos cheias de anos e em 2018 regressou a Esmoriz, de onde é natural.
É atriz, apresentadora e guionista. Fez musicais, teatro, séries, telefilmes, novelas e cinema. Apresentou programas de economia, saúde, entretenimento e cultura. Passou pela RTP, SIC, TVI, Record TV e EDP on TV.
Continua a trabalhar neste carrossel.
A Ilha da Formiga é o seu primeiro livro e Gula de Uma Rapariga Esquelética de Amor o seu primeiro romance.