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Tim Booth: "os últimos anos dos James têm sido os melhores"

Sai nesta sexta-feira o álbum orquestral "Be Opened By The Wonderful", uma revisão da matéria dada de forna grandiloquente.

Tim Booth: "os últimos anos dos James têm sido os melhores"
Lewis Knaggs (cortesia Popstock)

Os James resolveram comemorar os 40 anos de carreira com quase 40 músicos em estúdio, para gravar o álbum Be Opened By The Wonderful com o auxílio numeroso de uma orquestra e de um coro. 

O disco duplo de 20 faixas sai hoje no formato físico (em vinil e CD) e é chão para algumas cambalhotas de clássicos como Sometimes, Tomorrow, She's A Star, Sit Down ou Say Something.

É sobre Be Opened By The Wonderful que falámos com o vocalista Tim Booth por zoom. O cantor revê com orgulho o passado, e vê com entusiasmo o futuro próximo: um concerto com orquestra nas imediações da Acrópole de Atenas que será filmado, um novo álbum dos James a ser trabalhado e, a título pessoal, um livro de ficção a ser lançado no próximo ano.

As canções têm várias vidas, como é sabido. O que é que as vossas canções vos disseram de novo desta vez neste álbum orquestral?
Começámos a trabalhar com orquestra e com coro numa digressão de 2011, antes de isso se ter tornado clichê. Portanto, retrabalhámos algumas destas canções nessa altura. Às tantas, apercebemo-nos que nada tínhamos gravado ou filmado. Tinha ficado espetacular. Escolhemos propositadamente algumas canções com menor visibilidade, que não eram necessariamente os singles, em 2011. Desta vez, tivemos a intenção de selecionar alguns singles. É fascinante vermos as nossas canções a brilharem numa nova perspetiva. Dá para compreender quais as canções que permanecem, crescem e se afirmam como clássicos com outras vidas e quais as que se vão abaixo. Os concertos foram fabulosos, os fãs reagiram como se tivesse sido o melhor trabalho algumas vez feito por nós. Pessoas que nos tinham visto centenas de vezes diziam-nos isso. Foi muito intimista. Julgamos que com 40 pessoas em palco, as letras podem desvanecer e que o cante se pode tornar menos importante. Na verdade, senti-me incrivelmente despido e vulnerável com cada letra que eu cantava. Nós tocámos as canções de forma muito calma, vagarosa e parada. Uma das maiores dificuldades foi não desatar a chorar, porque soava tão belamente. Como banda, estávamos arrebatados pela música que estávamos a produzir. Os últimos cinco anos dos James foram os mais prazerosos em 40 anos. Com a inclusão de duas mulheres nos últimos anos [a multi-instrumentista Chloë Alper e a baterista e percussionista Deborah Knox-Hewson], ganhámos um equilíbrio que não sabiamos que nos estava a faltar. Mas com uma orquestra e um coro, fomos ainda mais longe. Os últimos cinco anos têm sido de intenso gozo em palco. Com um coro gospel e uma orquestra, as canções foram redescobertas e alteadas. O álbum soa fantasticamente, espero que outras pessoas também o achem. 

É como uma grande produção cinematográfica de Hollywood no Monument Valley. É como se as canções orquestradas tivessem sofrido um alargamento de paisagem, não é?
Penso que sim. Costumávamos ser um quarteto - apenas guitarras, baixo, baterias e vozes. Depois, tornámo-nos um septeto. E depois, um noneto. Continuámos a expandir-nos. A coisa boa é que, sempre que nos expandimos, não houve um desperdício, nem uma saturação. [O alargamento] melhorou-nos. Não sei quando pararemos de crescer, mas vai ser difícil separarmo-nos da orquestra e do coro. Foi uma experiência maravilhosa. Vai tornar-se estranho voltarmos a ser uma formação de nove membros. Sim, é um disco de grande orçamento. Gravámos este disco duplo em três dias e meio. Foi muito, muito rápido. É caro termos uma orquestra e um coro atrás de nós. Mas estamos muito orgulhosos. Apesar de termos feito overdubs, o disco foi gravado como se fosse ao vivo, e essa espontaneidade está lá refletida. 

 

O elenco é enorme. É um álbum muito populoso, com 40 pessoas em estúdio. É praticamente uma povoação. É difícil comandar tanta gente? O Tim sentiu-se o autarca da localidade?
Quem era o autarca era o Joe [Duddell], o maestro. As orquestras são muito disciplinadas, não são como as bandas rock. As orquestras e os coros fazem tudo a partir das folhas de pautas que lêem. A Chloë [Alper], da nossa banda, fez um trabalho muito dedicado com o coro. É incrivel como é que, de forma tão instantânea, trabalhámos todos na mesma direção. A digressão foi marcante. Tornámo-nos todos uma só equipa ao fim do primeiro concerto. O pessoal da orquestra adorou a nossa espontaneidade. Adoraram quando eu revirava tudo e tínhamos que repetir a mesma parte da música. Ou quando eu mudava o alinhamento a meio da atuação. De repente, estávamos a tocar uma outra música que tinha sido anotada. Eles adoravam quando eu lhes pedia para se levantarem ou quando desafiava o coro a ir para a frente do palco, para cantar ao pé do público. Eles adoraram a nossa espontaneidade, porque o mundo deles é mais rigido. Funcionou, foi notável. Pensámos que iria haver alguma resistência, mas isso não aconteceu. 

 

Normalmente, vocês gostam de começar as músicas em jams com três ou quatro músicos. Como é que se faz uma jam com uma orquestra inteira e um coro?
Numa das canções, o Joe [Duddell, o maestro] saiu do palco e foi-lhes dito a eles [elementos da orquestra] que poderiam tocar o que quisessem. Portanto, ficaram a improvisar numa música. Houve vários momentos em que lhes foi dito que poderiam improvisar e foi-lhes dado esse espaço. Eles tinham noção de que poderiam alterar as suas intervenções quando houvesse solos. O Saul [Davies, o multi-instrumentista dos James] toca todas as noites um pouco de violino e em todas as noites ele é diferente. Ele nunca se repete. Nalgumas noites, o Saul tocava o seu solo e o Joe olhava para mim e eu sinalizava-lhe para que ele continuasse. O Joe olhava de lado para o coro e pedia-lhes para que ainda não entrassem. Portanto, havia margem para o improviso. Costumo enfiar-me na multidão. E claro, sempre que me atiro para a multidão, perco todo a noção do tempo. Eu canto para as pessoas, o que obriga a orquestra a ter que mudar constantemente aquilo que estava para tocar. Frequentemente, o público canta connosco. Nessas alturas mando parar o coro para que a audiência cante, até o coro retornar. E então, há uma pausa nossa para a interação entre a assistência e o coro que se torna muito bonita. Fazemos com que a espontaneidade aconteça. 

Canções como Tomorrow, She's a Star, Sit Down, Laid ou Say Something são brindadas por mudanças radicais neste álbum. Mas há outras músicas que sofrem pouquíssimas alterações, como Lookaway, Someone's Got It In For Me ou We're Gonna Miss You. Esse contraste é planeado ou simplesmente acontece sem especial razão?
Basicamente, o Joe, eu próprio e o Jimmy [Jim Glennie, o baixista e fundador dos James] selecionámos os temas e optámos pelas canções em que sentimos que era mais apropriado desviar e mudar. Penso que o que ficou melhor foi o Sometimes. O Laid era apenas uma versão acústica que insistimos em tocar, para que o Joe pudesse ouvir e a partir dali construir. O mesmo aconteceu com o Beautiful Beaches, que foi um single por cá. Desencaixámo-nos do nosso modelo e desafiámo-lo para que experimentasse mais, especialmente depois de termos ouvido o Sometimes, que tinha ficado mesmo incrível. Mas algumas canções estavam determinadas em não se mudarem tanto. O We’re Gonna Miss You está muito similar à outra gravação, mas esta versão está mais poderosa. 

 

Está mais poderosa porque conta com mais braços, mais vozes, mais ares em movimento, certo?
Exato, e essa foi uma canção que nunca tocámos muito porque não tínhamos suficientes vozes, braços, pernas e almas para as interpretar como deve ser. Mas com o auxílio de um coro e de uma orquestra, estávamos capazes de a interpretar. 

Torna a música mais intensa, não é? Quanto mais pessoas, mais intensa se torna.
Sim, ficou maravilhoso. Foram os casos de Lookaway, Alaskan Pipeline ou We're Gonna Miss You, canções que não incluíamos nos nossos alinhamentos ao vivo, porque ficavam muito estáticas. Muitas das canções que tocamos ao vivo são otimistas e alegres. Diante de um público com telemóveis, é complicado manter a atenção das pessoas com canções mais lentas. Desde que as pessoas passaram a usar smartphones, a concentração em coisas mais óbvias desapareceu. Portanto, quando tocamos esses temas, banimos os telemóveis dos auditórios em que temos tocado e isso ajudou a que retornasse essa concentração. Foi impressionantemente divertido e o disco deu imenso gozo fazer. O Sometimes está forte. Fizemos uma nova canção [Love Make A Fool], porque queremos continuar a mostrar que continuamos a escrever canções tão boas quanto aquelas que escreviamos nos anos 90. Andamos a vender mais bilhetes de concertos do que nos tempos em que éramos chamados de famosos. A unica razão porque não somos famosos hoje é por estarmos velhos e a discriminação etária está em todo o lado. As pessoas não querem olhar para velhos. Preferem ver jovens, bonitos, mamas lindas e rabos. Mas nunca vendemos tantos bilhetes como agora porque os nossos concertos continuam a ser excitantes. E a última vez que tocámos em Portugal foi lindíssimo [no Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia]. 
Estamos a fazer um novo álbum de momento. É um dos melhores discos que já fizemos. A nossa reação tem sido “oh meu Deus, tenho aqui um punhado de grande canções”. Isto está mesmo excitante. Só vamos parar quando quebrarmos e espremermos ao máximo. 

 

Sente-se muito o vosso gozo em estar em palco e em fazer este disco, como acontece com o momento à capela com o coro em Why So Close.
O Why So Close é uma das nossas primeiras canções, e é sobre a Guerra Fria e a ameaça de uma guerra nuclear. Esse assunto mantém-se de pé. Somos uma banda invulgar. Nos anos 80, escreviamos canções sobre o aquecimento global e sobre a coragem das mulheres em darem à luz. Recentemente, a Chole da nossa banda, que é uma feminista, pediu-nos para tocarmos o Gold Mother. É uma espécie de canção feminista sobre partos. Estamos a falar de uma canção improvisada de nove minutos em que simulamos contrações. Portanto, não é bem uma canção, é uma série de contrações. Escrevemos em 1990 sobre a política do governo britânico de matança na Irlanda do Norte. Somos uma banda fora do comum, não somos como os Oasis ou qualquer outra banda de britpop que fazem canções sobre o facto de serem estilosos, sobre drogas ou sobre o engate de mulheres. Escrevemos sobre coisas tão diferentes, umas mais depressivas, outras mais otimistas. Habitualmente, há uma positividade inerente. Mesmo quando abordamos assuntos mais sombrios, como a Guerra do Iraque, há sempre algo de otimista na canção, porque não queremos deprimir ninguém, muito menos neste mundo traumatizado pós-covid em que estamos a viver, com tanta doença mental à volta. Temos a obrigação de cantarmos e enfrentar os tempos sombrios, mas ao mesmo tempo, de não deixar as pessoas deprimidas. Se as pessoas ficarem deprimidas, não conseguem fazer nada contra estes tempos sombrios. Não os conseguem mudar. Mas se deixares as pessoas em cima, então elas vão ter uma energia positiva e essa transformação pode acontecer.

Atravessaram cinco décadas diferentes ao longo deste álbum. Esta combinação entre os êxitos e as canções mais obscuras foi intencional?
Sim, em 2011, tínhamos feito uma digressão com a orquestra, sem incluir quaisquer singles. Desta vez, pensámos que se quiséssemos fazer um álbum duplo, iriamos ter que usar alguns singles, a ver o que fariamos com eles. E então, o Joe [Duddell] fez grandes versões. Se não fossem boas, não as usariamos. Deixámos algumas de fora. Houve algumas mais que não funcionaram para nós, achámo-las demasiado parecidas com as originais. Voltaremos a elas mais tarde, acho, num ano ou dois, mas temos outras canções. Para a digressão, duplicámos as canções que iriamos tocar, alternando-as, mudando os alinhamentos. Costumo fazer os alinhamentos meia-hora antes de subirmos a palco. Como tal, podemos estar a atuar e mirar aos nossos pés qual a próxima que vamos tocar. O que acontece é que: ‘oh não, não essa. Como é que vamos tocar esta?’ Nunca fazemos ideia mas faz parte do que somos, enquanto James. Gostamos do risco, da espontaneidade, da adrenalina. Gostamos de nos assustar ao vivo de propósito. 

Algumas das canções que têm interpretado nos vossos concertos orquestrais não estão incluídas no álbum, como Getting Away With It (All Messed Up) ou Born of Frustration. A escolha das faixas para o disco foi dolorosa? 
Tivemos que fazer um álbum duplo em três dias e meio, o que é incrível. Mas não fomos a tempo de gravar todas as canções que desejávamos. Deixámos algumas de fora, mas ficámos felizes por isso. Tocámo-las ao vivo sempre que precisámos. Mas foi variando, tal como é normal com os James. Somos uma banda que funciona muito ao acaso. Acreditamos no momento. Queremos acreditar que não olhamos muito para trás. Nunca oiço os discos antigos que devia, para poder aprender alguma coisa. Não olhamos para trás, damos passos em frente. É por isso que nos orgulha essa nova canção, porque abrimos o álbum com o Sometimes e colocamos o novo tema logo a seguir. Não quebra, nem diminui o disco. O Sometimes é provavelmente a melhor faixa do álbum, na minha opinião. Mas a nova canção logo a seguir fica bem, o que é um sinal de que a nossa escrita de canções continua a funcionar. 

 

Falou do novo álbum dos James que estão a preparar. Pode dar-nos mais detalhes?
Não, ainda é muito cedo. Mas sempre que a música surge por intermédio das pessoas com quem trabalho, sinto uma elevação. Ainda estou a escrever as letras. Tenho alguns meses para escrever todas as letras, tenho ainda algumas para terminar. Estou também a concluir um romance que estou a escrever, que era para ter sido publicado em agosto, mas que teve que ser adiado por causa do álbum dos James. O livro deve sair no próximo ano, [a história] é sobre um cantor atormentado no seio de uma banda. Portanto, estamos bastante ocupados e adoramos o que fazemos. Sinto-me realmente abençoado pelo trabalho que fazemos. 

Vocês são realmente abençoados. Estive a conferir os locais fantásticos em que vão tocar na próxima digressão. Vão tocar em locais rurais lindíssimos das Ihas Britânicas e nalguns locais históricos da Grécia, incluindo da Grécia antiga. O Tim não é só um bom cantor, é também um viajante muito bem pago, não é?
Vamos tocar na Acrópole, só deixam tocar dez artistas por ano no anfiteatro. Será fantástico. Vamos filmar. Assim esperamos, porque não podemos pagar o acompanhamento de orquestra e de coro na maior parte dos países. É demasiado caro. Claro que não fazemos dinheiro com esta digressão. Portanto, vamos mesmo filmar a nossa atuação na Acrópole, e se tudo correr bem os nossos fãs poderão experienciá-la de alguma maneira. 
Eu quero voltar à América do Sul, é um sítio tão rico para nós. Foi uma grande surpresa quando lá estivemos pela primeira vez, não tínhamos noção que tínhamos lá tantos seguidores. Na primeira vez que fomos ao México, tínhamos marcado uma sala de espetáculos para 2000 espectadores, que esgotou em um dia ou dois. Passámos para uma sala maior de 4000, que esgotou. Passámos então para um espaço de 6000, que esgotou. Passámos então para um espaço de 12000, que esgotou. Não faziamos ideia que éramos tão populares nesse país. Foi um prazer tão grande, tal como no Peru e no Chile. “Oh meu Deus, está aqui um público que não tínhamos descoberto” até 2007 e que estava à nossa espera. 

Ainda vive nos Estados Unidos?
Não sei. Tenho estado cá [na Grã-Bretanha], por causa da mãe da minha mulher, que perdeu o marido devido ao covid. Temos estado cá há um ano. Mas sinto falta da América, é lá que os nossos filhos estão a viver. Estamos muito divididos sobre o sítio a residir. É uma decisão que vamos ter que tomar. A América é uma terra incrível, com pessoas maravilhosas. Mas o sistema político é nojento e perigosamente próximo do fascismo. Está complicado, não sabemos onde devemos passar a viver. 

Manchester está a tornar-se uma cidade de fantasmas para o Tim? Têm-se perdido algumas lendas da cidade: umas morreram, outras migraram. Ainda reconhece a velha Manchester onde já viveu?
Já não. Fizeram tantas construções em Manchester que até o Jimmy, que tem lá vivido todo o tempo, se perde por lá comigo. Criaram o caos, com construções atrás de construções. Mas o Jimmy continua a ir lá muito, porque ele é um grande adepto do [clube de futebol] Manchester City. Vai lá por causa do futebol. Estamos lá permanentemente. Por causa da morte dos mais velhos, temos sido cada vez mais respeitados como sobreviventes em Manchester de um modo muito bonito. Por isso, é uma cidade muito especial para nós, foi onde crescemos e aprendemos a ser músicos. 

O Tim é um ícone da cidade. Mas testemunhou também a afirmação de outros ícones de Manchester, como os Joy Division, mais tarde os Smiths, e mais tarde a cena de Madchester, com os Stone Roses. Enquanto curioso que assistiu a isso tudo, quem o impressionou mais?
Tudo grandes bandas de Manchester. Vi os Joy Division ao vivo e eles eram incríveis. Obviamente, fizemos digressões com os Smiths e vimo-los de perto e foi impressionante de acompanhar. Eu adorava ver os [Happy] Mondays ao vivo. Os Fall eram uma das nossas bandas preferidas. Abrimos para eles algumas vezes. Mais tarde, foram eles a abrir para nós, eram tão tramados e teimosos, mas ao mesmo tempo tão interessantes. Todas essas bandas de Manchester eram muito difíceis de serem domadas. A editoras não conseguiam amansá-las e essa era a linha que fazia a cena de Manchester tão interessante. Não creio que muitos deles procurassem o dinheiro e o sucesso. Penso que todos eles procuravam fazer grandes músicas, de modo invulgar e obstinado. Se o sucesso acontecesse, ótimo. Também éramos arrogantes para pensar que o sucesso iria ocorrer naturalmente. E ocorreu. Acho que a arrogância foi paga, a auto-confiança também. Não nos formámos para fazer dinheiro. Não fizemos dinheiro algum durante os nossos primeiros sete anos. Limitávamo-nos a fazer a nossa música e o que gostávamos. O nosso sucesso só aconteceu mais tarde e estávamos preparados para ele. Andámos sete anos a tentar descobrir o nosso som, quem nós éramos, o que queriamos ser. Grande parte das bandas não tem esse luxo. Nós só queriamos ser uma banda ao vivo. No início, nem sequer queriamos lançar discos. Mas tivemos que lançar discos de modo a que arranjássemos promotores para nos porem a tocar ao vivo. Então, a Factory veio ter connosco para nos perguntar se queriamos gravar um disco. E nós respondemos que não, que íamos só fazer um single. Nós queriamos arranjar concertos, porque sabiamos que o melhor teste a uma banda estava na qualidade ao vivo. Esse era o grande teste para uma banda. Esse era o teste de autenticidade. Por essa razão, não queriamos lançar discos, demorou muito tempo a persuadirem-nos a gravar. Nós fomos a única banda a rejeitar a frente de capa do NME [o então jornal semanal New Musical Express]. Não queriamos que fossem ouvir a nossa música à conta dos jornais de música. Queriamos que nos descobrissem ouvindo a nossa música, ou através do passe-a-palavra, dizendo o quão bons éramos em palco. Acabámos de ganhar o Ivor Novello Award, com o título de ícones, o que se torna bizarro. Significa que estamos vivos. As lendas estão normalmente mortas, mas ícone significa que ainda fazes estremecer.