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Marés Vivas: Da Weasel enchem as medidas

Grande atuação de Slow J no palco principal do festival gaiense.

Marés Vivas: Da Weasel enchem as medidas
Paulo Bico

35 mil pessoas lotaram o recinto para ver os Da Weasel, a banda que fechava a noite. Com um alinhamento muito similar ao do concerto no NOS Alive de há um ano, estiveram mais soltos, rodados e envolventes do que em Algés. E tiveram mais tempo para dar azo às suas potencialidades, com quase duas horas - a duração normal de um concerto.

A entrada foi de rompante, com Loja (Canção do carocho), A essência - Vem Sentir e Força (Uma página de história). Para quem não conhecesse o que é o gigantismo ao vivo dos Da Weasel, os primeiros dez minutos foram bastante esclarecedores, com a banda menos tensa do que no arranque do primeiro concerto de regresso, em Algés.  

'Jay' é aquele hip hop mais pesadão que os Da Weasel sempre gostaram de fazer. 'Carrosel (Às vezes dá-me para isto)' é dueto que segue as regras habituais de divisão de especialidades, entre os MCs Carlão e Virgul, como uma ponte entre hip hop e soul que faz réplicas noutros temas da banda de Almada. Mas é 'Dialectos de Ternura' que faz lembrar pela primeira vez que não são só os Da Weasel que estão em palco, há também um público que quer participar nas músicas.

Impressionado por voltar a atuar no norte, Carlão desabafou: "se isto não é tão bom como o sexo, está lá perto", depois de ter atirado com o fogacho punk 'Bomboca'. Entra-se depois no lado mais introspetivo dos Da Weasel, com a voz Manel Cruz novamente a aparecer na forma de programação, enquanto Carlão está sentado no cadeirão com os seus pensamentos. 'Mundos Mudos' dá continuidade a essa faceta mais existencialista dos Da Weasel.

Só à 13ª música é que os Da Weasel fogem à ordem do alinhamento do concerto no Alive, com '(No Princípio) Era o Verbo' -  "música não tocada no Alive, mas que foi muito pedida", tal como assinalou Carlão. O rap metal de 'Niggaz' instiga uma forte coreografia de milhares e milhares de braços no ar a ondularem para a esquerda e direita, sob a orientação de Carlão. O momento foi tão fotogénico que seria repetido mais tarde por mais duas vezes. 'Outro Nível' é mais conhecido pelo verso "Let's go, sente o puro som" do que pelo seu título, mas foi outro anímico para a imensa multidão. Toque-toque é o tique-toque para o final, num tema entre o Brasil e as Caraíbas, entre os ritmos do bossanova e as vibrações da Jamaica. 'Re-tratamento' foi guardado para o fim, com Virgul muito bem acompanhado pelo público cantador, num intercâmbio que se alongaria num momento à capela, só entre ele e os seus fãs. Não podia ter terminado melhor.

O refrão de 'Adivinha Quem Voltou' está mesmo a pedir o início de encore, num rap cheio de fúria punk, com a imagem no palco do Cristo-Rei, o grande monumento de Almada. Os temas finais 'God Bless Johnny' e 'Tás na Boa' completam este encore de hip hop metralhado de rock. 

Antes, já se vivia a atmosfera dos Da Weasel, não só no público, como no próprio palco. Slow J assumiu a sua condição de fã. Mandou interromperr a segunda música do seu concerto para dizer isto com estrondo técnico: "o primeiro concerto que vi na vida, eu João Coelho, foi os fucking Da Weasel. no Rock In Rio. Quero que percebam o peso que eles têm para mim". E no final voltou à carga para dizer em tom de brincadeira: "vou despachar isto para ver os Da Weasel".

Mas Slow J foi muito mais do que um fã de Da Weasel a fazer o preparado para os ídolos. Impôs-se naturalmente. Tem uma africanidade que não se fica pelas coladeiras e afins, conta com os préstimos da guitarra portuguesa e o MPB é mais do que um acesso remoto na sua música. Hip hop, funk, rock exploratório, coladeiras fazem parte do mundo enorme de Slow J,. Canta como um músico brasileiro, atira palavras como Gil Scott-Heron. É rapper festivo e cantor introspectivo. Slow J tem esta extensão 

A atuação de uma hora fez-se muito da sua banda de cinco elementos que Slow J descreveu como "maravilhosos mesmo nos momentos tristes". E elogiou o carinho do público: "cá em cima não tem comparação".

Antes, Os Quatro e Meia saudaram o facto de este ser um dia totalmente dedicado à música portuguesa. Diante já de uma multidão recheada, o público mostrou afeto e conhecimento pelas canções do sexteto de base coimbrã, como foram os casos de 'Na Escola', de 'Terra Gira' e 'Pra Frente Que É Lisboa' (este com um pouco menos de entusiasmo, talvez pelo facto do público ser maioritariamente do Porto e a ode à capital moderou um pouco a adesão à música).

Jorge Palma abriu o palco principal. Mas apesar de prejudicado pela chuva que batizou esta edição, mostrou que enquanto houver estrada para caminhar 'A Gente Vai Continuar', tal como cantou na parte final.