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2023 na música: as polémicas mais acesas

Olhamos para o que aconteceu ao longo do ano no mundo da música e destacamos as maiores polémicas.

2023 na música: as polémicas mais acesas
Roger Waters: Kate Izor Brian Molko: Mohai/MTI via Associated Press Shakira: Sarah Yenesel EPA/Lusa Ed Sheeran: Annie Leibovitz Rock In Rio Febras: Facebook Oficial Lizzo: DR - cortesia Everything Is New

A Inteligência Artificial ao serviço da criação musical 
Parece ser uma polémica de longa duração. O advento da Inteligência Artificial (IA) e a sua utilização na criação artística musical foi um assunto recorrente ao longo do ano. Sting desabafou sobre a nova realidade em maio. Numa entrevista à "BBC", o músico teceu duras críticas ao uso e manipulação de música com recurso à IA. "Talvez funcione para a música eletrónica. Mas para canções que expressem emoções, penso que não me irão comover", disse o britânico. Sting prevê uma "batalha que vamos todos enfrentar no próximo par de anos: a defesa do nosso capital humano contra a IA", lembrando que as estruturas musicais "pertencem-nos a nós, humanos".

Ed Sheeran também não está muito convencido com os eventuais benefícios deste tipo de avanço tecnológico. Em agosto, o inglês falou deste tópico no "Audacy Live", um espaço de entrevistas e atuações que são gravadas no hotel do Hard Rock, em Nova Iorque. "O que não entendo sobre a IA... é que nos últimos 60 anos, os filmes de Hollywood têm nos dito, 'não façam isso'. E agora toda a gente faz", disse. "Pergunto-me. Não viram os filmes em que eles [robôs] nos matam a todos? Também não entendo a utilidade. Há certas coisas... se estamos a tirar trabalho a um ser humano, talvez seja uma coisa má", referiu ainda o inglês. "A sociedade gira à volta do trabalho, de fazermos coisas. Se tudo for feito por robôs, toda a gente fica sem trabalho", concluiu.

Em setembro, ouvimos outra voz cética sobre esta matéria. Brian May, o histórico dos Queen, abordou a questão durante uma entrevista à publicação "Guitar Player". O músico mostrou-se preocupado e afirmou ser uma realidade "extremamente assustadora".  "Deixa-me apreensivo. Estou a preparar-me porque sei que é algo que me vai deixar triste", confidenciou o britânico. "Creio que por esta altura no próximo ano estaremos a viver uma realidade completamente diferente. Não saberemos distinguir. Não vamos perceber o que foi criado pela IA e o que foi criado pelos humanos. Acho que vai ser tudo muito difuso e muito confuso. Talvez nessa altura olhemos para 2023 como o último ano em que os humanos dominaram a cena musical", acrescentou May. 

As questões relacionadas com o uso da IA chegaram aos Grammys em setembro. A polémica girou em torno de 'Heart on My Sleeve' - tema que viralizou em abril nas plataformas digitais e que foi criado por um produtor anónimo que se apresenta ao mundo como Ghostwriter. A composição é original, porém as vozes (similares às dos canadianos Drake e The Weeknd) foram geradas com recurso à IA. A polémica estalou quando a imprensa internacional noticiou que o tema tinha sido submetido aos Grammys mesmo depois de em junho a Academia de Artes e Ciências de Gravação ter estabelecido que só aceitaria criações com "mão humana" na corrida às estatuetas. A confusão foi agravada com uma entrevista que o próprio diretor-geral da academia deu ao "The New York Times", dando a entender que o tema poderia ser elegível para os Grammys, uma vez que a composição e a gravação originais tinham sido feitas por um humano, mas reforçando que teria de ser averiguado se a canção estaria a ser distribuída comercialmente - uma das exigências para a corrida. Harvey Mason Jr. veio depois a público esclarecer que o tema não é elegível para as estatuetas da indústria discográfica precisamente por não estar a ser comercializado.  

A luta legal de Roger Waters para atuar em Frankfurt, na Alemanha 
No final do mês de fevereiro, as entidades oficiais do estado de Hesse e da cidade de Frankfurt, na Alemanha, impuseram a proibição do concerto de Roger Waters no Festhalle (uma das grandes salas de espetáculos de Frankfurt). A proibição foi feita com base numa acusação de antissemitismo "aparente" ao músico britânico. O comunicado das entidades alemãs justificou a decisão com aquilo a que apelidou de várias ações hostis de Roger Waters para com o Estado de Israel, entre as quais os seus apelos a outros músicos de boicote de concertos no país judaico ou a comparação que fez das políticas de Jerusalém com o regime racista sul-africano do Apartheid, com base da atuação das forças israelitas contra os palestinianos.
Em março, o músico britânico anunciou que ia tomar medidas legais contra a "política de cancelamento", sublinhando na altura que tinha acionado a equipa de advogados para agir legalmente. Em abril, a justiça alemã deu razão a Waters e o concerto aconteceu a 28 de maio. 

"Quero deixar claro, e de uma vez por todas, que não sou antissemita e nada que alguém possa dizer ou publicar vai alterar isso. As minhas opiniões públicas referem-se apenas às políticas e ações do governo israelita e não ao povo de Israel", afirmou o músico inglês em comunicado quando anunciou que estava pronto para lutar na justiça. "O antissemitismo é odioso e racista. Condeno-o da mesma forma que condeno todas as formas de racismo. Não vou insistir no esclarecimento da minha posição. Estou confiante que a verdade e a lei vão prevalecer. As autoridades em causa não vão ser bem-sucedidas a negar o básico em matéria de direitos humanos", acrescentou Waters que no mês março atuou na Altice Arena, em Lisboa, no âmbito da digressão "This Is Not a Drill".

O recadinho milionário de Shakira para Piqué
Em janeiro, Shakira agitou os tops, a imprensa e as redes sociais quando mostrou o tema/lista de recados para Gerard Piqué que fez com o produtor argentino Bizarrap. A artista colombiana não deixou nada por dizer em relação ao ex-companheiro de quem se separou em 2022. Até a atual namorada do antigo futebolista, Clara Chía, foi visada na canção. Só no mês de lançamento o tema somou sucesso atrás de sucesso. Foi a maior estreia de uma música latina na história do YouTube e conquistou o primeiro lugar no top global do Spotify, a tabela que revela qual a música mais ouvida no momento. Perante os feitos, em meados desse mês, Shakira usou as redes sociais para agradecer a quem a ajudou a concretizar a canção e ainda partilhou com os fãs uma velha máxima: "se a vida te der limões, faz limonada". Na 24ª edição dos Grammys Latinos (que aconteceram em novembro) 'Shakira: Bzrp Music Sessions, Vol. 53' conquistou a estatueta de Canção do Ano.

As acusações contra Lizzo 
No início de agosto, três dançarinas acusaram Lizzo de assédio sexual e moral, de body shaming e de promover um ambiente hostil no local de trabalho. Arianna Davis, Crystal Williams e Noelle Rodriguez são as bailarinas que instauraram um processo contra a cantora norte-americana. Quando confrontada com as queixas Lizzo defendeu-se das acusações numa nota que deixou nas redes sociais. "A minha ética de trabalho, a minha moral e a minha noção de respeito estão a ser questionados. O meu caráter está a ser questionado", começou por escrever. "Normalmente, escolho não responder a falsas alegações, mas estas são demasiado inacreditáveis e ultrajantes para serem ignoradas. As histórias sensacionalistas são contadas por ex-funcionárias que já admitiram publicamente que foram informadas de que o comportamento que tiveram na digressão era inapropriado e pouco profissional", continuava a nota da norte-americana. "Como artista, sempre fui muito apaixonada pelo que faço. Levo a minha música e os meus concertos muito a sério. No fundo, só quero criar artisticamente aquilo que me representa e o que representa os meus fãs. Com a paixão vem o trabalho duro e os padrões exigentes. Às vezes, tenho que tomar decisões difíceis, mas nunca tive a intenção de fazer alguém sentir desconforto ou de fazer alguém sentir que não é valorizado como uma parte importante da equipa", acrescentava o comunicado da cantora e instrumentista.

"Não estou aqui para parecer a vítima, mas também sei que não sou uma vilã, como as pessoas e a comunicação social me têm retratado nos últimos dias. Sou muito aberta com a minha sexualidade e a expressar-me mas não posso aceitar ou permitir que as pessoas usem essa abertura para me retratar como alguém que não sou. Não há nada que leve mais a sério do que o respeito que as mulheres merecem no mundo inteiro. Sei o que é ser humilhada pelo tipo de corpo que tenho. Nunca iria criticar ou tratar mal uma empregada por causa do peso. Estou magoada mas não vou permitir que o bom trabalho que fiz pelo mundo seja ofuscado por isto. Quero agradecer a toda a gente que me contactou para me dar apoio neste período tão difícil", escreveu ainda Lizzo.

O Centro Comercial Stop

A luta dos músicos que ensaiam no Centro Comercial Stop, no Porto, tem feito correr muita tinta. O centro comercial portuense, que há mais de 20 anos funciona como espaço cultural, com salas de ensaio e estúdios, viu a maioria das salas serem seladas em julho, deixando quase 500 artistas e lojistas sem terem para onde ir. A 4 de agosto, o espaço voltou a abrir as portas, mas com um carro de bombeiros à porta para qualquer eventualidade. No início de novembro, os músicos apelaram a uma "ação urgente" e ao "entendimento imediato" entre a Câmara Municipal do Porto e os proprietários do edifício para "acelerar os processos" de execução das obras necessárias à manutenção do espaço que esteve na iminência de fechar por falta de condições de segurança. Entretanto, o executivo da autarquia aprovou, por unanimidade, avançar com a classificação do Stop como imóvel de interesse municipal, o que implica legalmente a constituição de uma zona geral de proteção de 50 metros. O centro comercial vai continuar a funcionar por tempo indeterminado depois de os seus proprietários terem interposto uma providência cautelar à decisão da câmara de fechar o edifício. 

Ed Sheeran admitiu abandonar a música caso fosse dado como culpado num caso de plágio

A decisão do tribunal foi conhecida em maio. Ed Sheeran foi inocentado pela justiça norte-americana no caso de alegado plágio na composição do tema 'Thinking Out Loud'. O inglês estava acusado de ter plagiado elementos da música de Marvin Gaye, 'Let's Get It On', para o tema que lançou em 2014. O músico, que foi considerado inocente por um júri de um tribunal de Nova Iorque, teve de responder a um processo movido pelos herdeiros de Ed Townsend (1929-2003), co-autor de 'Let's Get It On'. A acusação sustentava que a canção de Sheeran teria demasiadas semelhanças melódicas, harmónicas e rítmicas com a parte de bateria da canção de 1973. Ed Sheeran admitiu deixar a música, se for dado como culpado de plágio.

Brian Molko (dos Placebo) e Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana 
A mais recente passagem dos Placebo por Itália foi polémica. A 11 de julho, durante a atuação do grupo no festival Sonic Park, em Turim, Brian Molko teceu vários comentários à atual primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni. Entre os acesos comentários que Molko proferiu em italiano, algumas acusações, como "racista" ou "fascista", originaram um processo por difamação instaurado pela estadista e pelo Ministério Público de Turim.   

Tudo menos Rock In Rio Febras 
A polémica instalou-se em julho quando um festival de Briteiros, em Guimarães, na altura chamado Rock In Rio Febras, recebeu uma notificação legal da empresa responsável pelo Rock in Rio Lisboa. A Rock World Lisboa acusava o evento de estar a usar indevidamente a marca e de concorrência desleal. A situação foi tornada pública pela própria organização do "pequeno" festival nortenho na página de Facebook. Dizia a nota que a empresa "teve conhecimento do sucesso do Rock In Rio Febras de 2022 e da organização da edição de 2023, temendo a confusão que a semelhança entre a designação dos dois eventos possa provocar no cidadão incauto". Ora, a partir daí gerou-se um movimento de interesse pelo festival das margens do Rio Febras, ao ponto de chegar aos 4 mil festivaleiros na edição de 2023 que aconteceu em julho. Para evitar problemas de maior, o nome do festival acabou por ser alterado - mas com o aval do público que teve uma palavra a dizer na escolha do novo nome. Mais de 14 mil votos online decidiram que o Febras passasse a ser Rock No Rio Febras. A votação estiveram nomes como Rock No Rio Febras (26,31% dos votos), Super Rock Super Febras (21,13% dos votos), Rock Near (but not in) Rio Febras (22,13% dos votos), Rockin' Rio Febras (20,88% dos votos) e Rock Rio Febras (7,56% dos votos).

O caso de Danieze Santiago, a artista que se apropriou de canções de Carolina Deslandes e Diogo Piçarra
Danieze Santiago é uma cantora brasileira de forró que no verão andou nas bocas do país depois de ter lançado "versões" de temas de Carolina Deslandes e Diogo Piçarra sem ter pedido autorização ou creditar os dois artistas portugueses pela autoria das canções. Danieze apropriou-se de 'Vai Lá', original que Carolina Deslandes editou em 2023 (com o disco "CAOS"), e de 'Saída de Emergência' (do álbum com o mesmo nome) que Diogo Piçarra lançou também neste ano.

À canção 'Vai Lá', Danieze Santiago deu-lhe o título de 'Sou Eu a Louca'. Carolina Deslandes reagiu ao plágio com um vídeo, escrevendo nas redes sociais: "AHAHAHA DANIEZE SANTIAGO AMOR, isto no limite é um cover. Diogo Piçarra também gravou um vídeo para comentar a situação. "Hoje acordei ao som de Danieze Piçarra... a 'versão' estava perfeita se tivesse pedido autorização, minha querida! a @carolinadeslandes também teve direito a uma cópia", escreveu o músico.

O protesto dos fãs de Celine Dion 
2023 começou com um protesto à porta da redação da Rolling Stone, em Nova Iorque, Estados Unidos. Em causa estava o facto de a famosa publicação de música ter deixado Celine Dion fora da lista dos 200 melhores cantores de sempre - lista essa que foi publicada no início do mês de janeiro. Os manifestantes pediram "justiça para a Celine" e acusaram a famosa revista norte-americana de "ter ido contra um iceberg", numa alusão a 'My Heart Will Go On', o hit cantado por Dion para a banda sonora do filme "Titanic". 
Como resposta, a Rolling Stone argumentou que a lista, liderada por Aretha Franklin, contemplava os que são considerados os melhores cantores e não os donos das melhores vozes. No pódio dos três melhores estão ainda Whitney Houston e Sam Cooke. 

Bilhetes para quase ver Beyoncé ou Taylor Swift 
São bilhetes aos quais se dá nomes como "listen only" (para ouvir apenas) e de "obstructed view" (visibilidade parcial) - o que significa que não será propriamente fácil ver o artista em cima do palco. A polémica sobre a venda deste tipo de ingressos girou à volta dos espetáculos das digressões de Beyoncé e Taylor Swift na América do Norte. A contestação fez-se nas redes sociais, com queixas sobre os ditos lugares e sobre os preços dos ditos lugares que, ainda que mais baixos que os restantes, indignaram as vozes contestatárias. Além da queixa dos preços, que andavam à volta dos 50 dólares (cerca de 46 euros), as pessoas também se queixaram da falta de aviso da pouca (praticamente nula) visibilidade destes lugares.