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2023 em núm€ro$ na música

Vendas de catálogos de canções, leilões extravagantes ou recordes de streams. A contagem na música fez-se com sete ou mais algarismos.

2023 em núm€ro$ na música
DR (Associated Press)

O nosso segundo balanço musical do ano é feito em números. Por números, entenda-se, encaixes milionários das grandes estrelas, recordes de streams ou leilões milionários. 

As folhas de pauta, com as habituais cinco linhas paralelas, aparecem-nos quadriculadas neste texto. As claves de sol surgem bizarramente no meio de expressões numéricas. Manivelamos caixas de música que afinal fazem plim e transformam-se em caixas registadoras que abrem gavetas de dinheiro. Que estranho este balanço de música em que tentamos escrever S e sai-nos um $, tentamos usar a vogal E, que é teimosamente substituída por um €. E aquela clave de sol está aqui com um traçado diferente em forma de libras esterlinas, invertidas ou não.

Neste artigo, tenta-se verbalizar sobre quem tão bem sabe averbar. Os teclados multiusos surgem com a opção de máquina calculadora. É inegável, os escritores de barras de compasso são barras em números. Nestas linhas, os contadores de tempos e de batidas também sabem contar dólares, euros e libras.

Nas folhas de pautas, entre colcheias e semicolcheias, vemos muitas contas de somar e de multiplicar, mas nenhuma de subtração. É o que estamos a ver nas folhas sobre o piano de cauda do Elton John. Ou serão papéis contabilísticos? A digressão de despedida de Elton John, a "Farewell Yellow Brick Road", passou este ano a ser a mais rentável de sempre da história da música, com um encaixe de 818 milhões de dólares (cerca de 750 milhões de euros), segundo a contabilização da Billboard. A receita da Farewell Yellow Brick Road ultrapassou a da digressão de Ed Sheeran, The Divide Tour (2017-2019), que tinha obtido um encaixe recorde 776 milhões de dólares (cerca de 711 milhões de euros) e que na altura havia superado a 360° Tour (2009-11) dos U2, que tinha arrecadado 736 milhões de dólares (cerca de 675 milhões de euros).

 

Nestes parágrafos a seguir, vestimo-nos de homens de fato e gravata, com calças claras e uma pasta dos recordes, como se fôssemos júris do Guinness que autenticam distinções. E quem é que encontramos? O canadiano The Weeknd, que este ano não se ficou só por um recorde do Guinness. Abel Tesfaye (o nome civil de The Weeknd) é o músico do mundo com a melhor média mensal de streams: 111 milhões de streams, bem acima da segunda classificada, Miley Cyrus, com uma média mensal de 82 milhões de streams. E com isto, o Guinness patenteou um segundo recorde em 2023 para The Weeknd: o do primeiro músico do mundo a ultrapassar a fasquia de 100 milhões de streams por mês.    

Na língua inglesa, record tanto significa disco, como um máximo absoluto. Mas para Taylor Swift, é tudo a mesma coisa. Tudo o que grava torna-se um recorde. Ou melhor, tudo o que Taylor Swift faz torna-se um número jamais batido. Foi o que aconteceu com o filme-concerto deste ano "Taylor Swift: The Eras Tour", sobre a atual digressão "Eras" que em maio de 2024 vai passar pelo Estádio da Luz, em Lisboa. Mesmo antes de chegar aos cinemas, já era o filme-concerto mais rentável de sempre, com um encaixe antecipado de 100 milhões de dólares (94 milhões de euros), ultrapassando o anterior recorde do filme-concerto de Justin Bieber, "Never Say Never", que em 2011 tinha amealhado 99 milhões de dólares.

 

Taylor Swift não mistura só definições de record. Para ela, Guinness ou Billboard, vai dar ao mesmo... Isto é, o seu nome está quase sempre lá em cima, numa tabela qualquer. Por exemplo, neste ano, Taylor Swift obteve mais um feito no currículo. A norte-americana é agora a mulher com mais discos ao mesmo tempo nos 10 primeiros lugares do top 200 da Billboard. "Speak Now (Taylor's Version)", editado a 7 de julho, tornou-se no 12º disco da artista norte-americana a chegar ao número um, o que faz com que Swift tenha destronado Barbra Streisand na liderança da categoria das artistas femininas com mais álbuns a chegar ao primeiro lugar da tabela. 

Nem no Spotify, que tem sido o reino comercial de The Weeknd, Taylor Swift larga o 1º lugar. A cantora norte-americana foi a artista mais ouvida do ano em todo o mundo, incluindo em Portugal.

O ritmado Bad Bunny também tem abanado o Spotify com os seus... números... de dança. É dele o álbum mais ouvido do ano na famosa plataforma de escuta. A sua obra "Un Verano Sin Ti" superou "Midnights" de Taylor Swift (em 2º) e "SOS" de SZA (em 3º). 

a canção mais ouvida de 2023 no Spotify foi 'Flowers' de Miley Cyrus, que alcançou ainda outro feito, como a música mais rápida de sempre a alcançar os 100 mil milhões de streams (bastaram 112 dias).  

 

Na liga portuguesa do Spotify, o campeão deste ano foi o rapper T-Rex (a persona musical de Daniel Benjamim), com uma dobradinha, com os títulos de artista nacional mais ouvido no país e de álbum mais ouvido por intermédio do seu longo de estreia, "Cor D’ Água". Já na lista do Spotify das músicas mais ouvidas em Portugal deste ano, cabe o 1º lugar a 'Como Tu' de Bárbara Bandeira (tema em que participa Ivandro).

Houve mais feitos nacionais no Spotify. O rapper e cantor Slow J bateu o recorde de álbum português mais ouvido de sempre no dia da publicação, por via de "Afro Fado", lançado no final de novembro. O artista sadino esteve mesmo imbatível nos números. Logo em novembro conseguiu esgotar a lotação da maior sala de espetáculos do país, a Altice Arena, em Lisboa, a mais de três meses do concerto, agendado para 8 de março.

 

Já se sabe, o mercado musical é também necrófago e alimenta-se das memórias dos mortos. Os leilões de artigos de antigas lendas continuam a movimentar valores chorudos e até impensáveis. O lendário vocalista dos Queen, Freddie Mercury, voltou a estar mais vivo do que morto no mundo leiloeiro. A mediática coleção coleção "A World of His Own" ("Um mundo só dele") - na Sotheby, em Londres - valeu algumas vendas consideráveis, como o seu piano de cauda (Yamaha G2) onde compôs uma série de êxitos emblemáticos dos Queen como o colossal 'Bohemian Rhapsody' , vendido em leilão por cerca de dois milhões de euros. Houve mais efeitos milionários deste tema de 1975. O manuscrito de 'Bohemian Rhapsody' (canção de 1975 cujo título podia ter sido 'Mongolian Rhapsody') foi vendido por mais de um milhão de euros.

Também o rasto de Michael Jackson continua a valer enormes arrematações, como foi o caso neste ano do impactante casaco de couro vestido pelo Rei da Pop num anúncio da Pepsi-Cola de 1984, que foi leiloado em Londres pelo valor de 250 mil libras (por mais de 300 mil euros). 

 

As vendas de catálogos de canções já foi chão que deu uvas. A caça aos tesouros dos históricos parece estar esgotada. Sobram agora os artistas das gerações mais novas, como foram em 2023 os casos milionários de Katy Perry e de Justin Bieber. A cantora norte-americana vendeu os direitos do seu catálogo cancioneiro entre 2008 e 2020 pela soma de 225 milhões de dólares (pouco mais de 210 milhões de euros). O comprador foi a Litmus Music, que está a começar a aparecer neste mercado de compra de direitos de canções, depois de ter adquirido o catálogo de canções do músico de country Keith Urban. O negócio com Katy Perry abrangeu algumas das suas canções mais populares, como 'I Kissed a Girl', 'California Gurls', 'Firework', 'E.T.' ou 'Roar'.
 
O negócio de Justin Bieber foi ligeiramente mais modesto. Mas só ligeiramente. O músico canadiano vendeu os direitos do seu catálogo musical à Hipgnosis, por 200 milhões de dólares (cerca de 184 milhões de euros). A Hipgnosis, empresa britânica especializada na gestão de fundos musicais, acrescentou, desta forma, a estrela musical de 28 anos a uma lista já recheada de artistas como Leonard Cohen, Shakira ou os Red Hot Chili Peppers. O acordo inclui mais de 290 músicas publicadas até o final de 2021 pelo artista canadiano, como os sucessos 'Baby', 'Sorry' e 'Love Yourself'.