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"Maestro": sinfonias e sem fobias

Filme sobre a vida de Leonard Bernstein e sobretudo do amor de Felicia para com ele.

"Maestro": sinfonias e sem fobias
DR - Netflix

Estreia-se hoje um dos grandes biopics do ano, talvez mesmo um dos grandes filmes americanos de 2023: "Maestro", uma narrativa cronológica dos momentos mais quentes da vida do compositor Leonard Bernstein.

Tratando-se de uma ficção a tentar recriar os momentos conturbados do artista que compôs o musical "West Side Story" (entre tantas outras obras maiores), a longa-metragem entra onde o público não o via: entre as quatro paredes do seu lar, onde a personagem principal é a sua esposa Felicia Montealegre. Conheciamos o monstruoso Leonard Bernstein a dirigir orquestras e a dar aulas de música transmitidas pela televisão. Por via deste filme, passamos a conhecer o mais imperfeito Lenny, cuja mulher era como se fosse a sua mãezinha, a sua cuidadora de imagem - "se não fosse ela, vestir-me-ia como um palhaço", desabafa a personagem de Leonard Bernstein numa das cenas.

Com o aval dos produtores Martin Scorsese e Steven Spielberg, o ator Bradley Cooper avançou para a realização deste ambicioso filme, tomando ele a interpretação suada e excêntrica de Leornard Bernstein, com um papelão difícil de igualar. Só se for mesmo uma Carey Mulligan, na pele da mulher Felicia, que, de facto o superou. 

"Maestro" é uma história de amor, ou melhor, do amor dela para ele. Mas também, numa forma pouco convencional, dele para ela.

O filme vibra com a paixão assolapada entre os dois, que tem como uma das cenas simbólicas o jogo de adivinha de números, com os dois sentados e encostados de costas no meio de um jardim.

A tensão que Bernstein considera essencial na sua música foi também a da sua vida, sobretudo a sua homossexualidade evidente que perturbou mas que nunca desfez inteiramente a sua relação matrimonial que resistiu até ao último dia da vida dela. Essa tensão de dicotomias é o grande conflito que mobiliza a trama.

Não era uma heterossexualidade de fachada. No amor, Leonard Berntein foi hetero, mas nos prazeres foi também homossexual. Tal como retrata "Maestro", os seus amantes impunham-se como um desejo, mas Bernstein tentava elevá-los intelectualmente, na sua embriaguez de atração física.

A encenação de uma dança de um musical entre os dois, Lenny e Felicia, ainda jovens, em que Bernstein, fardado de marinheiro, é levado pelos braços de outros dois marinheiros é um prenúncio metafórico.

O filme é a história de amor - do casal, com os filhos -, mas igualmente de amores, sobretudo pela música e pelo seu ensino. Vemos sobretudo o músico a dirigir orquestras, a dar aulas, e, embora menos, no ato sofredor da composição, numa pequena divisão a compor para um bailado e mais tarde na festejada conclusão de uma ópera.

"Se o verão não canta em ti, então nada cantará em ti. Se nada canta em ti, não poderás fazer música", a frase despertadora de Felicia para com o músico em bloqueio criativo, torna-se um eco para todo o filme, sobretudo na consciência de Leornard Bernstein, o homem endiabrado e brincalhão, que, entre outros desvarios, consumia cocaína à grande em festas.

Não há como não falar do grande trabalho plástico na maquilhagem para a transformação de Bradley Cooper no narigudo Leonard Bernatein e no envelhecimento dos dois principais personagens. Já cheira a Óscar na categoria de Melhor Caracterização. 

Claro que ao longo do filme, se vai ouvindo a música de Leonard Bernstein, mas também das sinfonias de Schumann, Mahler e de Beethoven por si dirigidas, e ainda 'Shout' dos Tears for Fears, com o idoso compositor numa pista de discoteca com um dos seus alunos.

 

"Maestro" está disponível na plataforma da Netflix a partir de 20 de dezembro.