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Bob Marley no seu "Exodus" na Babilónia

Filme "Bob Marley: One Love" estreia-se hoje nos nossos cinemas.

Bob Marley no seu "Exodus" na Babilónia
Cinemas NOS

O filme “Bob Marley: One Love” centra-se num período tenso da vida de Bob Marley, que intermedeia dois grandes eventos pela paz na Jamaica que tem o rei do reggae como figura maior do cartaz: o atribulado “Smile Jamaica” de 1976 e o mais bem sucedido “One Love Peace Concert”, de 1978. Pelo meio, que é quase tudo, o filme tem como cenário a cinzenta Londres onde o músico vive o seu exílio, com reminiscências do passado da soalheira Jamaica.

A longa-metragem é realizada por Reinaldo Marcus Green e interpretada por Kingsley Ben-Adir no papel de Bob Marley. O filme segue ao som de uma música instrumental triunfalista (de Kris Bowers), mais ao estilo da Babilónia cinematográfica de Hollywood do que da essência espiritual da atmosfera de Bob Marley. 

Eis alguns dos factos biográficos de Bob Marley que o filme mostra: 

1. O tiroteio em casa de Bob Marley em 1976 é mostrado com detalhe. Bob Marley fazia uma pausa na cozinha dos ensaios de preparação para o concerto no "Smile Jamaica", a fazer malabarismos com laranjas, quando se vê diante do homem que o alveja. Bob Marley sofre um ligeiro ferimento no braço, o mesmo não se pode dizer do manager, Don Taylor, que sofreu vários tiros quando tentava proteger o cantor, e da mulher Rita Marley, que foi baleada quando estava dentro de um carro. Todos os três baleados sobreviveram ao atentado.

2. O tal tiroteio decorre durante a tensa preparação para o evento "Smile Jamaica", numa ilha em clima de insegurança e de quase guerra civil entre os gangues de apoio a cada um dos partidos rivais da Jamaica. O filme recria a interpretação de uma das canções do alinhamento do concerto no "Smile Jamaica", o tema de abertura 'War', e o aparato policial no final da atuação. De fora ficam pormenores que aconteceram, como a ausência em parte incerta de vários membros dos Wailers.

3. No filme, o exílio em Londres de Bob Marley tem como pano de fundo figurantes punks, que eram a nova tribo urbana de Londres nos anos de 1977 e de 1978. Marley e o seu staff vão a um concerto dos esquerdistas Clash num dos clubes da capital britânica, a cantarem o hino punk anti-racista ‘White Riot’. Mas a malta rasta lá presente não se livra de ouvir alguns comentários racistas por parte de alguns ingleses na assistência.

4. Vemos um dos momentos “Eureka” da composição da canção ‘Exodus’, quando Bob Marley se empolga com a banda sonora do filme de Otto Preminger, “Exodus”, que se ouve no piso de baixo da sua vivenda, e que um dos Wailers estava a pôr a tocar no gira-discos, com música de Ernest Gold. A partir dali, num momento de repentismo, Bob Marley coordenou com a banda um momento de improviso, onde dispara a letra do que viria a ser o célebre tema.

5. “Bob Marley: One Love” é um filme biográfico sobre Bob Marley mas também sobre o álbum “Exodus” (de 1977), em que acompanhamos as várias fases de feitura do disco, da gravação das canções no estúdio londrino da editora Island Records à elaboração da capa. Em estúdio, o filme mostra a entrada de Junior Marvin, como solista da guitarra elétrica e a sua praxe de conversão ao rastafarismo. Quanto à capa, mereceu a desconfiança do editor americano, por causa da ausência da imagem de Bob Marley, em prol do lettering etíope de “Exodus”. Bob Marley, que quis pôr a palavra à frente da sua imagem, conseguiu impôr a sua vontade.

6. Bob Marley é detido pela polícia britânica em Londres, na posse de marijuana, numa das praças centrais da capital britânica. Na detenção, Marley mostra ser líder, assumindo ser ele o homem que tinha a ganja, para ilibar os companheiros que com ele fumavam.

7. Ao longo do filme, vemos Bob Marley a jogar várias partidas de futebol com os seus companheiros. E é num desses jogos que Marley, a jogar lesionado, sente um problema. Esse problema era uma ferida que não sarava no dedo grande do pé. O diagnóstico veio depois numa consulta em Inglaterra: um cancro de pele e a urgência aconselhada pelo médico em amputar o dedo do pé. Bob Marley recusou amputá-lo. No biopic, só se vê o início do tumor. Em 1980, fora do raio temporal do filme, o problema oncológico de Marley ressurgiria de forma galopante, a meio de uma digressão nos Estados Unidos. Bob Marley só iria viver mais alguns meses, tendo o seu coração parado de bater em 1981.

8. Bob Marley tem um ataque de cólera e de violência brutal contra o manager Don Taylor que esmurra, por causa de dinheiro recebido à socapa do cantor e da banda para a sonhada digressão africana que seria cancelada.

9. No filme, vê-se a composição a longo termo de ‘Redemption Song’ desde os tempos mais jovens até ao final dos anos 70. Rita Marley ouve a canção com emoção e pede-lhe para ir em frente com o tema. ‘Redemption Song’ é publicado em 1980, no último álbum em vida de Bob Marley, “Uprising”. É a canção mais diferente de Marley, totalmente acústica e sem o acompanhamento instrumental dos Wailers.

10. Ao longo do biopic, há reminiscências de memórias do passado. O pai branco, um oficial britânico mais velho, rejeita o filho - “ele não é meu, é teu”, havia dito à mãe negra Cedella Booker- perante o testemunho do menino Robert Nesta. Vemos também a forma como o bem jovem Bob Marley conheceu o produtor bizarro de boné Lee “Scratch” Perry, aos tiros com a sua pistola e quase a dispensar os Wailers da primeira gravação no mítico Studio One, em Kingston. Outro dos flashbacks jamaicanos são os ensinamentos do guru espiritual da sua namorada Rita [que viria a ser a mítica Rita Marley dos coros femininos dos Wailers] que iriam converter o namorado Bob Marley à religião (então ainda sem as famosas tranças rasta).

11. O filme termina com as imagens do Bob Marley real em grande ação no palco, do qual o ator Kingsley Ben-Adir é uma pálida e arranjadinha recriação, sem carisma para encher o papel exigente de nos fazer esquecer a comparação com o rei do reggae.