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Demissão de Lucília Gago seria "grande favor à democracia e ao Estado de Direito"

O líder dos funcionários judiciais confessa-se "estupefacto" com algumas declarações da procuradora-geral da República e acusa-a de "tentar sacudir a água do capote" ao associar as greves destes profissionais à demora nos interrogatórios.

Demissão de Lucília Gago seria "grande favor à democracia e ao Estado de Direito"
O presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, António MarçalBy Gracapolaco - Own work, CC BY-SA 4.0

O presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ) defende que a procuradora-geral da República, Lucília Gago, faria “um grande favor à democracia” se apresentasse a demissão do cargo no seguimento da entrevista que deu esta segunda-feira à RTP3.

Questionado sobre se a procuradora-geral tem condições para manter-se no cargo, António Marçal defende que “não” e sublinha que a saída de Lucília Gago seria não só “um grande favor à democracia e ao Estado de Direito”, como também “uma grande defesa da instituição que é o Ministério Público”.

Em declarações a esta rádio, o representante dos funcionários judiciais confessou-se “estupefacto” com uma entrevista que diz ter trazido “ainda mais dúvidas” ao público e, em especial, com as “considerações” que Lucília Gago fez, “designadamente quando liga o excessivo prazo de detenção de um conjunto de arguidos em fase de inquérito de instrução criminal à greve dos oficiais de justiça ou quando parece querer limitar o direito à greve desses trabalhadores”.

António Marçal referia-se ao momento da entrevista à RTP3 em que a procuradora-geral refere que “causa indignação e sobressalto” haver cidadãos detidos que não são interrogados devido à paralisação dos funcionários judiciais, em alusão ao caso que investiga suspeitas de corrupção na Madeira, no qual os três arguidos ficaram cerca de três semanas detidos até conhecerem as medidas de coação. 

O líder sindical acusa Lucília Gago de, ou “tentar sacudir a água do capote”, ou ter algum “desconhecimento” da situação a que se refere.

“Quando a senhora diz que está a falar da excessiva duração dos inquéritos de interrogatório do caso da Madeira, bastava ter consultado o processo em concreto ou ter analisado algumas das declarações proferidas por mim, com exemplos concretos de nomes de pessoas concretas, em que os meus colegas estiveram até às 23h00, 24h00, 1h00 a trabalhar”, refere António Marçal, que avalia a entrevista como uma oportunidade perdida, por parte de Lucília Gago, para “esclarecer os cidadãos e fazer uma defesa acérrima da instituição que dirige”.

*com Gonçalo Teles