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Carlão: "é difícil considerar-me rapper"

"Entretenimento?", este é o título do novo álbum de Carlão que sai hoje. Falámos com o ex-Da Weasel.

Carlão: "é difícil considerar-me rapper"

Sentindo Carlão que a política tem entrado cada vez mais no eixo do entretenimento nesta era Trump, o rapper colocou-se a si mesmo a questão. "Entretenimento?" é o título do seu novo álbum, em forma de uma pergunta que se colocou a si mesmo sobre o que faz e em que está cada vez mais distante da resposta... E ainda bem, a ambiguidade e a dificuldade do rótulo é sinal de uma criatividade pertinente. No meio de tantas questões, essa é uma conclusão a que chegámos nesta entrevista ao ex-Da Weasel.

Nesta nova autodescoberta depois do álbum "Quarenta", o músico anteriormente conhecido como Pacman contou com alguns convidados de peso. "O Manel Cruz [ex-membro de tanta coisa, incluindo os Ornatos Violeta] já o conheço há alguns anos. O [António] Zambujo conheci há pouco tempo mas é daquelas pessoas em que há uma enorme facilidade no trato e na conversa. São ambos muito bons em géneros muito díspares. Estendi-lhes o desafio de entrarem neste disco". E assim corresponderam: Manel Cruz em 'Cerejas, Só Isso'; António Zambujo em 'Bebe um Copo'.

 

Carlão coloca o seu nome individual na lombada do disco mas não gosta de estar sozinho. Gostou tanto do álbum de Slow J do ano passado (que crescera, curiosamente, a ouvir os Da Weasel), "The Art of Slowing Down", que chamou o seu antigo fã para juntarem forças em 'Repetido'. Repetente nas vocalizações é Bruno Ribeiro. "O Bruno já me acompanha ao vivo desde sempre nesta fase de Carlão. No Quarenta ele já tinha gravado alguns temas. Além da voz incrível que tem, com um timbre muito bonito, é membro da banda. Tudo o que é cantado e quando não há convidados, é o Bruno” que é chamado.

 

Apesar de Carlão ter já mudado para a margem norte do Tejo e de fazer a sua vida familiar em Lisboa, a base de trabalho voltou para a sua Almada de sempre, mais precisamente na ribeirinha Cacilhas, onde viveu. Foi lá que nasceu de uma forma espontânea uma música bem cabo-verdiana como 'Viver pra Sempre', que faz parte de "Entretenimento?". "Seria muito difícil fazer um tema como o Viver para Sempre noutro sítio que não ali. Surgiu naquela sala com aquelas pessoas à minha volta. E só surgiu porque eu estava ali", rejubila Carlão, a descobrir que além de urbano da grande Lx, é também um ramo da sua árvore genealógica cabo-verdiana.

 

A diferença de uma década entre a sua fase de Pacman nos Da Weasel e o seu ciclo atual como Carlão é temporalmente menor que a musical. Há um projeto no meio que o fez mudar, Algodão, cujo registo falado faz do seu rap atual um misto com uma outra coisa qualquer. "Entretenimento? é a pergunta do título. Mas poderia haver outro nome com ponto de interrogação. Rapper? "Tenho uma grande dificuldade em rotular-me. É a história da minha vida. Sou filho de pais cabo-verdianos mas tenho avô português. Tenho uma misturada cultural e genética. A minha escola musical começa com bandas de garagem e comigo a tocar baixo. Muito rock, muito metal, muito punk, muito core, sempre a reboque do meu irmão [João Nobre, também ele ex-membro dos Da Weasel]. É difícil assumir-me como rapper. Mas também não sou cantor. É uma grande salganhada. É difícil dizer se sou branco, preto, mulato ou café com leite. Às tantas, isso já não me interessa muito. Agora, é difícil porque as pessoas gostam de ter tudo arrumado em prateleiras e em rótulos. Eu acho que sou alguém que vive muito nesse universo da música urbana e próximo do hip hop mas não sei se posso considerar-me um rapper a 100%".

 

Por falar em Algodão, o projeto está em fase sabática mas... "Algodão é aquela coisa que posso fazer até morrer".


"Nada me diz que eu não vá fazer um disco de Algodão daqui a um ano, para um registo que gosto muito que é o café-concerto, com trinta ou cinquenta pessoas sentadas e estar ali a dizer aqueles poemas e a cantar aquelas músicas que gosto muito", acrescenta.