Outros Lugares
Temporada 1
Balcãs: um passado por arrumar
O propósito foi entender como se vive com um trauma da guerra. Entender as pessoas que fizeram parte dela, que lá estiveram, que dela se esconderam. Tentar conhecer os dois lados. Ouvi-los, pelo menos. Que privilégio ter conseguido falar com Hamza, Milka, Borko, Slavcko, Sylvia, Natasa, Artemii, Marko e Petrit. Pessoas cuja vida deu muita volta mas estão cá e não esquecem. Por detrás de um olhar bondoso, está uma profunda angústia guardada a sete chaves. Um país partido em bocados e bocados a reconstruir bocados. Atrevo-me a dizer que foi das viagens mais completas que já fiz até hoje. Consegui reunir a componente histórica e humana com a paisagem totalmente diversa a cada fronteira ou esquina dobrada. Os parques naturais, as amplitudes térmicas, a carne e o peixe. O marisco e as sopas com estufados. Quando estudei e pensei a viagem, tive alguns momentos inquietos onde não encontrava solução facilitada para atravessar fronteiras a partir de certos pontos de referência. Li, reli, procurei e não havia forma de encontrar ligações que me pudessem deixar no sítio que queria, no horário pretendido. Pois as viagens servem também para nos surpreendermos a nós próprios. Atravessei a fronteira Bósnia/Sérvia com a caravana da Weis e do Bart, Borko recomendou-me o comboio que ligava a Sérvia ao Montenegro para outra cidade que não Kotor - e assim fiz - poupando tempo. Mais uma vez, a viagem a mostrar que tudo se faz e que a Internet, embora útil, nunca terá o impacto colossal que uma simples pergunta cara a cara é capaz de proporcionar.
Da montanha ao mar, da neve ao calor, do silêncio à agitação, os Balcãs tornaram-se uma parte profundamente desejada deste lado pouco explorado da Europa. É daqueles lugares onde voltaremos para bons reencontros.