Outros Lugares
Temporada 1
Pelas montanhas do Grande Cáucaso
Esta foi a primeira viagem pós-pandemia.
Chego de madrugada à capital da Geórgia, ponto de partida para a viagem pelas montanhas. Tempo para recarregar baterias e preparar os pés e a cabeça.
Lasha é o motorista que me leva de Tbilisi até Mestia numas pouco agradáveis onze horas de caminho num carro híbrido que avaria a meio com um problema no gás. Lasha pede desculpas de cinco em cinco minutos mas não tem que se preocupar. Mal sabe ele que o passageiro adora imprevistos de viagem. Curvas, contra-curvas, estradas absolutamente danificadas, outras em construção. Uma verdadeira epopeia de onze horas que termina em Mestia, a cidade dos caminhantes, a mais conhecida da região de Svaneti. Chego moído mas vivo.
Se a capital da Geórgia é acelerada e dinâmica, o mesmo não se passa aqui pelas montanhas. No caminho até Ushguli, vou percebendo como o tempo não passou por aqui. Não há vivalma nas estradas de terra batida. Lenhadores estão recolhidos a beber Shasha para aquecer a alma, agricultores estão nos prados ao longe a tratar do seu sustento. Pastores há poucos, com muito para cuidar.
Toda a vista tem como pano de fundo as montanhas e os caminhos até aos glaciares. Quando o vento sopra tremem-nos os ossos. Há que comer e beber para sobreviver. A comida georgiana é bastante condimentada, os vegetais são frescos e bem cozinhados, o queijo de Svaneti é algo de divinal e os estufados são deste e de outro mundo.
De Svaneti fui para outra zona montanhosa: Kazbegi. Se a primeira é pura, a segunda é imponente. As montanhas circundam toda a zona para onde quer que queiramos olhar. Fui a pé da cidade até à igreja que fica no topo com vista para o Monte Kazbek.
De Kazbegi parti também para caminhar no Truso Valley, uma extensão extraordinária sem ninguém. Sempre em frente, passando por vilas abandonadas e fortalezas em ruínas. Começa em Kvemo Okrokana e termina perto da Ossétia, junto à fronteira russa onde estão sempre dois soldados com quem tive oportunidade de falar.
Dia seguinte: caminhada por Juta. Entre Juta e Roshka, passando pelo Chaukhi pass. Chego aos 3300m de altitude, cansado e começo a descer até encontrar umas lagoas magníficas. O caminho é duro mas a recompensa acompanha sempre a dor.
Volto à vida agitada de Tbilisi, recordo com saudade o espírito da montanha imponente que, sem nada dizer, nos conta tanto pedindo firmeza. Vagueio e escrevo pela zona velha da cidade, provo vinho Georgiano, passo a noite numa residência literária com outros autores e começou a sonhar com casa. É tempo de regressar.