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Pedro Tatanka, dos Black Mamba: "fizemos um tributo aos festivais dos anos 70"

Músico não esconde à nossa rádio a sua felicidade pela vitória no Festival da Canção.

Pedro Tatanka, dos Black Mamba: "fizemos um tributo aos festivais dos anos 70"

Hoje, em conversa telefónica com Pedro Tatanka, o homem da frente de palco dos Black Mamba exteriorizava alegria em cada som que emitia, no rescaldo da vitória do Festival da Canção, ocorrido este fim-de-semana, graças à canção por si composta, 'Love is on My Side'. 

"Ainda estamos a acordar desse sonho, sentimo-nos muito felizes e honrados por representar Portugal. Vai ser um prestígio muito grande para nós (representar Portugal no Festival da Eurovisão). Não estávamos à espera de ganhar, por cantarmos o tema em inglês. Fizemos história nesse sentido, fomos os primeiros. Sabíamos que cantar em inglês seria muito complicado”, refere Tatanka, consciente do feito inédito ao ter vencido o nosso Festival da Canção com uma canção na língua inglesa. Desde os anos 60 que se canta em inglês no cenário rock nacional (no sentido largo do termo), a música soul dos Black Mamba inclina-se naturalmente para a língua estrangeira mais familiar do mundo e na Eurovisão há um histórico de sucesso no uso do inglês por projetos de outras paragens - ABBA incluídos. A vitória dos Black Mamba com um tema em inglês teria tudo para ser considerada normal, não fosse o facto de ser a primeira vez que uma canção em língua estrangeira triunfa no Festival da Canção da RTP. 

“Sabíamos das adversidades e das outras músicas que eram fortes e que eram mais candidatas que nós - umas três, quatro ou cinco, talvez mais”, confessa Pedro Tatanka, que volta e meia intercala as palavras com risos de felicidade. “Aquela carinha que se vê que ganhámos era mesmo uma carinha sincera. Não estava mesmo à espera, eu não estava a acreditar que aquilo aconteceu”.

 

Luz ao fundo do túnel vem de Roterdão 
Com esta vitória no Festival da Canção, os Black Mamba saem dos cuidados intensivos em que se encontra grande parte da comunidade musical nacional por causa da austeridade pandémica. De repente, há uma luz de esperança para o grupo que é bastante solar. "Estamos muito felizes, ainda para mais num ano em que temos levado muita porrada. Todo o setor da música tem levado muita porrada. Sentir este carinho e amor das pessoas foi muito gratificante, pôs-nos outra vez com esperança. Foi também muito importante nesse sentido”.

Para Pedro Tatanka, não houve grande nervosismo nesta transposição da hibernação imposta pelo confinamento para uma súbita exposição televisiva. "Isto já é como andar de bicicleta, são muitos anos a dar-lhe muito, sempre a tocar e fazer muitos programas de televisão, muitas situações de pressão em que podes ficar mal visto em direto. Essa é uma das nossas mais-valias: somos muitos confiantes nas nossas capacidades de interpretação. Quando vamos a programas de televisão em que dá para fazer vários takes, fazemos à primeira”.

 

O destaque pela diferença
Pedro Tatanka já sabe o que o espera quando se iniciar o Festival da Eurovisão em Roterdão no próximo mês de maio. "Acho que aquilo é uma onda super-exigente", "num contexto de ensaios - ensaios - entrevistas - entrevistas”, sob uma pressão mediática que os Black Mamba desconhecem, admite o guitarrista português. 

Tatanka sabe que baixar as expetativas sobre os resultados finais pode ser benéfico para os Black Mamba. “Na meia-final (do Festival da Canção), fui com a mente feita de que não ia ganhar. Iria concentrar-me no melhor que eu poderia fazer, ser honesto e sincero comigo mesmo. Tenho que ir com esta mentalidade. Temos a consciência de que temos um conceito de música muito diferente, com uma orquestração diferente do que se está a fazer agora. Em Portugal, estávamos muito diferentes de tudo o resto, apesar de haver muita variedade. Havia a canção mais clássica portuguesa, o fado e as novas tendências como o EU.CLIDES ou o Karetus. Nós estávamos a fazer um género de tributo ao Festival dos anos 70, com os smokings e as orquestrações desse género”.

 

Eurovisão ou ser eurovisionário pode ser a atitude de se fazer diferente face ao grosso do que se faz no grande festival continental de televisão. Os irmãos Sobral (a compositora Luísa e o intérprete Salvador), com o tema 'Amar pelos Dois' e uma veia jazzística com afinidades com Chet Baker, destacaram-se em 2017 pelo desdém aos arranjos eletrónicos dominantes, que se consumou numa vitória inédita para Portugal. "Ainda não vi quem são os participantes do Festival da Eurovisão, mas tanto quando sei, é tudo mais pop e eletrónico. Vamos ter uma estética e uma canção muito diferentes das outras”. Pedro Tatanka não alimenta "grandes expetativas" sobre a sua participação na Eurovisão: "tudo o que vier de bom, é bom".

 

Euromilhões
“Quando fui convidado como compositor e tinha que escolher um intérprete e uma cantiga”, Pedro Tantanka pensou primeiro em si mesmo em nome individual, em que cantaria uma música em português. “Depois pensei: e se ganhar? Se calhar, enquanto Black Mamba, nunca mais na vida vais ter a oportunidade de cantar para tantos milhões de pessoas e se calhar cativar a atenção de agentes e editoras no estrangeiro que possam realizar o nosso sonho de ter uma presença mais assídua pela Europa fora. A União Europeia pode ser vista como um país que de repente se abre. Em vez de dez milhões, abrimos para 300 ou 400 milhões. Pensei que se ganharmos, temos uma oportunidade de ouro de tocar e cantar para milhões e milhões de pessoas de uma vez só”. Diante de Pedro Tatanka, pode surgir a oportunidade de assinar contratos com agentes de vários países que possam permitir a assiduidade de digressões dos Black Mamba pelo Velho Continente. "Essa seria a grande vitória" para os Black Mamba.

 

Pedro Tatanka quer libertar-se da "claustrofobia de se trabalhar num país muito pequenino". E exemplifica: "se tocares hoje em Aveiro, amanhã já não podes ir tocar a Anadia ou a Ílhavo. Tens que esperar dois meses para voltares a tocar num raio de 50 quilómetros”.   

O quarto álbum da banda que começava a ser pensado pode ser acelerado pelos acontecimentos festivaleiros, com esse motor psicológico chamado ânimo. "Ficámos cheios de pica para fazer um novo álbum. Estas coisas são muito importantes para ir carregando a alma. Nós já estávamos a pensar nisso. ‘Temos que nos juntar, agora que estamos todos juntos’. Agora temos mais tempo, porque é tudo pessoal muito ocupado. Os nossos projetos têm várias facetas. Quase todos nós temos filhos, o tempo é escasso. Nem tudo é mau no meio desta pandemia. Temos disponibilidade para nos juntarmos para trabalhar este disco e esta é uma oportunidade dourada” para preparem um novo álbum. Mesmo que seja impossível lança-lo logo em maio ou junho, talvez uma amostra de antecipação possa ser publicável.