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David Bowie nasceu há 75 anos

Dez curiosidades sobre o Camaleão da pop. Conseguiu influenciar a música em seis décadas diferentes.

David Bowie nasceu há 75 anos
Bob Child/Associated Press

A 8 de janeiro de 1947, há exatamente 75 anos, nascia David Bowie, uma das figuras mais marcantes e diversificadas da pop. Morreu dois dias depois do seu 69º aniversário, a 10 de janeiro de 2016. Os dez anos finais foram de maior reclusão. Antes, manobrou-se como ninguém em ciclos musicais diversos, sem nunca perder a elegância, ou manchar o estatuto. No saldo final, deixou um reportório de excelência, de numerosas canções aninhadas na consciência coletiva e com um sentido de mistério de que algo fica sempre por descobrir nele. Foi vanguardista e simultaneamente popular. Poucos, muito poucos, se lhe comparam. 
 
Em baixo, recordamos dez curiosidades de uma figura pop complexa.    
 
O Little Richard branco 
Londrino de berço, o adolescente David Bowie - ou David Jones como se chamava - idolatrou a música que os seus pais odiavam: o rock & roll, sobretudo Little Richard. David Bowie sonhou tornar-se o Little Richard branco. 


  
Tom Jones 
Um dos seus nomes artísticos falhados foi o de Tom Jones, antes do outro Tom Jones singrar.   
 
Space Oddity 
O single de David Bowie, Space Oddity, foi editado apressadamente, a tempo da alunagem do Apollo 11 e do primeiro homem a pisar a lua, Neil Armstrong. Mas quando a BBC pediu a Bowie para passarem o tema durante a transmissão televisiva da viagem espacial de Armstrong e de Buzz Aldrin, o músico hesitou em aceitar o pedido, preocupado que caso a expedição lunar corresse mal, o tema ficasse demasiado ligado ao iminente desastre e se tornasse um fracasso comercial. Mas Bowie decidiu dar o OK ao uso de Space Oddity pela BBC. E a música ficou imortalizada de vez a partir de 20 de Julho de 1969 - o dia em que o homem (Neil Armstrong) pisou pela primeira vez a lua. 
 


  
O primeiro encontro com John Lennon 
David Bowie e John Lennon tornaram-se grandes amigos quando ambos viveram em Los Angeles. E chegaram a colaborar juntos no tema Fame, que faria parte do álbum de Bowie de 1975, "Young Americans". Mas o primeiro encontro entre ambos foi estranho, segundo recorda o mais longo colaborador de David Bowie, o produtor Tony Visconti, à BBC. Conheceram-se num quarto de hotel em Nova Iorque e nas primeiras duas horas estiveram os dois sem dizerem uma palavra, enquanto Bowie ia desenhando num bloco de folhas, "ignorando" Lennon. Ao fim de duas horas de silêncio, o ex-Beatle pede a Bowie para dividir as folhas com ele. Lennon queria desenhar Bowie. O Camaleão responde-lhe: “isso parece-me uma boa ideia”. Os dois começaram a caricaturar-se um ao outro. "Foram trocando as folhas entre eles e começaram a rir-se. Isso quebrou o gelo", refere Tony Visconti, que assistiu à cena.   

 
 
A mãe de Slash 
Slash revelou em tempos à rádio australiana Triple M que viu aos oito anos de idade a sua mãe e David Bowie juntos e nus. Ola Hudson, mãe do ex-guitarrista dos Guns N' Roses, foi a estilista de David Bowie durante o período Thin White Duke do cantor inglês, que decorreu entre 1974 e 1976. 
 
“A minha mãe começou a relacionar-se com o David profissionalmente. Tenho a certeza que tudo começou assim. Depois tornou-se numa espécie de romance misterioso que durou por algum tempo. Foi ela que fez o guarda-roupa para o período do Thin White Duke e para o filme "The Man Who Fell To Earth" que ele protagonizou. O Bowie andava à volta da minha mãe nessa altura", declarou Slash à Triple M. "Apanhei-os uma vez nus. Estava a passar-se muita coisa entre eles mas a minha perspectiva era limitada. Agora que olho para trás, percebo o que realmente se passou. E só consigo pensar o quão bizarro era aquilo tudo".     

 
  
A mão amiga a Iggy Pop 
Foi na Berlim dividida que Iggy Pop se salvou, graças a David Bowie. Foi Bowie que o puxou para cima depois do fim dos Stooges e de um período de total desnorte. E foi Bowie que apaparicou o seu arranque a solo. Quando os dois foram para Berlim, para curarem as suas dependências de drogas, David Bowie foi a mão amiga para alguém que ele profundamente admirava como grande performer, que era Iggy Pop. Bowie compôs a música e tocou uma série de instrumentos para Iggy Pop nos seus discos berlinenses, como no álbum de estreia, "The Idiot".  

 
 
Críticas à MTV 
Durante uma entrevista em 1983 à MTV, David Bowie sentiu necessidade de ser ele por momentos a fazer as perguntas, para tentar perceber porque é que a estação televisiva passava tão poucos videoclipes de artistas afroamericanos, especialmente no horário nobre, tendo em conta a importância da sua música e a qualidade dos seus vídeos. O apresentador Mark Goodman tentou explicar a David Bowie a abertura progressiva da MTV face a artistas negros, embora o cantor britânico se mantivesse pouco convencido com os argumentos apresentados pelo VJ. 

 
  
David Bowie Is 
Uma grande exposição sobre David Bowie, "David Bowie Is" correu vários pontos do mundo entre 2013 e 2018. Tratava-se de uma grande coleção de artefactos usados pelo artista, desde o guarda-roupa ao vivo de numerosas digressões, a letras manuseadas e mesmo desenhos do cantor. Juntava-se à coleção de artigos, a projeção de diversos vídeos. 

 
    
Blackstar 
No documentário da BBC “David Bowie: The Last Five Years”, é revelado que o Camaleão soube do diagnóstico de morte cerca de três meses antes do óbito a 10 de Janeiro de 2016. O final dos tratamentos contra o cancro em Setembro coincide com a gravação do vídeo de uma das canções do derradeiro álbum “Blackstar”, ‘Lazarus’, o que desmistifica alusões de que David Bowie deitado na cama e vendado no teledisco pudesse ter a ver como o simbolismo da sua morte. “Para mim, tinha a ver com o aspecto bíblico, o homem que se reergueria. Não tinha nada a ver com o facto de estar doente”, diz no documentário Johan Renck, o autor do videoclipe de ‘Lazarus’. 


   
O último mail a Brian Eno 
David Bowie e Brian Eno tiveram uma cumplicidade de praticamente 40 anos, que vai dos tempos da trilogia berlinense de álbuns - "Low" (de 1977), "Heroes" (de 1977) e "Lodger" (de 1979) – a contactos permanentes até 2016, ano em que morreu o Camaleão. Como Bowie vivia em Nova Iorque e Eno em Londres, foram usando muito o correio elétronico nos últimos anos, assinando ambos nomes fictícios. No início de janeiro de 2016, a uma semana de morrer, David Bowie concluiu o seu mail a Eno com estas palavras: "obrigado pelos nossos bons tempos, Brian. Jamais apodrecerão", com uma estranha assinatura: “Dawn” (alvorada). Só depois da morte de Bowie é que Brian Eno percebeu que, com aquelas palavras, se estava a despedir dele.    

 
 Artigo originalmente publicado a 10 de janeiro de 2021 e agora ligeiramente alterado.