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Dino D'Santiago juntou-se à cantora brasileira Luedji Luna para o tema 'Oh Bahia'

O novo single, já disponível nas plataformas digitais, é mais um passo na aproximação do músico ao Brasil depois da colaboração com Ermicida.

Esta sexta-feira, 26 de abril, Dino D'Santiago mostrou o dueto que fez com a cantora e compositora brasileira Luedji Luna. A canção chama-se 'Oh Bahia' e já está disponível nas várias plataformas digitais. O single foi produzido por Seiji e Nosa Apollo e tem a contribuição do músico, escritor e poeta angolano Kalaf Epalanga na letra. 

'Oh Bahia' representa também mais um passo na aproximação de Dino D'Santiago ao Brasil depois de em 2023 ter lançado o tema 'Maria' ao lado do brasileiro Emicida.  

A nova canção é "uma ode ao Atlântico Negro, celebrando-o como um território que une Cabo Verde e Brasil. A música explora paisagens sonoras que se estendem das vibrantes ruas de Salvador até as tranquilas praias de Tarrafal na Ilha de Santiago, destinos que têm a língua de Cesária Évora e Mateus Aleluia como elo de ligação", diz o comunicado que chegou à redação.

'Oh Bahia' "aborda os temas de amor, pertença e a busca pela beleza que se revela quando nos abrimos para o mundo". 

Como é que te cruzaste com a Luedji Luna?
Conheci a Luedji num momento muito especial. Foi quando fui convidado pelo Branko para atuar no Jazz Cafe, em Londres. É um espaço que costuma fazer duas sessões no mesmo dia. A primeira parte é a atuação de um artista, com banda e lugares sentados, e, depois disso, o espaço transforma-se numa espécie de club. Eu fui fazer a segunda parte e a Luedji fez a primeira. Quando a vi atuar adorei o som dela e quando nos conhecemos percebemos que já nos seguíamos um ao outro. Daí surgiu a vontade de nos vermos mais vezes e de eventualmente fazermos uma música juntos. A ideia ficou a pairar no ar. Entretanto, tive a possibilidade de ir ao Brasil e acabei por ir a Salvador, mais precisamente à Festa de Iemanjá. A festa é a 2 de fevereiro, mas consegui chegar uns dias antes. Foi nessa altura que fui para o estúdio com a Luedji e deixamos que a coisa fluísse criativamente. Antes de fazer a viagem já lhe tinha enviado uns instrumentais e ela escolheu um que hoje é o instrumental da 'Oh Bahia'. 


Sendo que a Luedji também é uma artista que se preocupa com aquilo que a rodeia, acredito que tenha havido mais pontos de conexão entre vocês, além da parte musical…
Acho que já estávamos muito alinhados e eu fiquei muito feliz por ver que as coisas aconteceram desta forma. A Luedji é vista pelo Brasil como Portugal me vê a mim. Temos as mesmas posições. Já tinha acontecido quando colaborei com o Emicida. É uma pessoa que dialoga nos mesmos campos energéticos que eu, com os mesmos sonhos. Acho que vibramos na energia dos mesmos sonhos. Vemo-nos como uma família humana a sair do mesmo trauma que ainda pesava na geração dos nossos pais.

Quando a cor ainda carregava um peso que te tirava o direito de dizeres, de seres e de fazeres aquilo que sonhavas. E nós já concretizámos sonhos. Até estou arrepiado. Estamos alinhados nesse lugar e nem precisámos de falar muito isso. Falámos mais sobre os artistas de quem gostamos, de como trabalhamos com a arte e de como colocamos a arte nas coisas que fazemos. Falámos de como gostamos de ir buscar outros campos artísticos, como o cinema, a representação, a pintura ou a escultura, para o nosso. Partilhamos o mesmo fascínio por estes lugares. Também acompanhamos muito o que acontece nos Estados Unidos, que depois reverbera para o sul, e, claro, seguimos o que acontece no continente africano que dialoga com o trânsito Brasil-Cabo Verde-Angola-Moçambique- São Tomé-Guiné. 

Estás, mais uma vez, a criar uma ponte em forma de canção. Quão importante é, hoje em dia, criar essas pontes?
Fico feliz por saber que posso fazer esse trânsito. O Amílcar Cabral, que era pan-africanista, sonhou bem. Falo da forma como os países se podiam libertar mas também de como podiam valorizar a sua cultura. É a ideia de se transformarem em países livres, com pessoas livres, mas também com vontade de se orgulharem da sua matriz. Faltava-me o Brasil nessa equação. E faz todo o sentido. É o país com mais pessoas a expressarem-se na Língua Portuguesa. São mais de 200 milhões de pessoas que pensam e sonham em português. E é um país muito espiritual. Desde os indígenas originais, passando pelos africanos que foram lá parar de uma forma trágica mas que hoje são mais de 100 milhões de pessoas negras. Estamos a viver um momento histórico que é único também. Há um orgulho que não havia antes. E isso reflete-se nas nossas canções. O nosso tempo é o tempo de amar. Já estamos a refletir o sonho dos nossos ancestrais e não o pesadelo. É um momento fascinante.  

Indo agora a um poema de Eugénio de Andrade, quão urgente é o amor?
É cada vez mais urgente. É a única arma que temos e que não precisamos de comprar. É o que realmente nos transforma. É o que nos cura. E acho, inclusive, que é importante estudar o amor. E não estou a falar do amor mais relacionado com a paixão e que, muitas vezes, é retratado no cinema dessa forma. Estou a falar da essência do amor. É uma essência inquieta quando o mundo está inquieto. É calma quando o mundo está calmo. O amor não é o reflexo de quem somos, é o reflexo de como estamos. Não acredito que o amor seja isto, acho que o amor é algo que está. E é nesse estado de "estar", em que olhamos para nós e deixamos de dizer "eu sou isto" ou "serei aquilo" e percebemos que fazemos parte de um todo. O meu "estar" hoje em dia é olhar para tudo com mais amor. É olhar com amor-próprio, compaixão e empatia. É um compromisso que passa pela compaixão e pela empatia. E tenho pesquisado muito sobre isso. Sinto que a forma como esse compromisso me foi ensinado ainda tinha muita carga religiosa. Essa carga venda-nos muitas vezes. Começamos a definir padrões muito altos e metas inatingíveis para a nossa vida. Isso tira-nos de um lugar de vulnerabilidade que abre espaço para sermos mais plenos, para olharmos para o todo como um só. Cheguei a esta canção na melhor fase da minha vida. É a primeira vez que tenho uma canção que fala sobre amor de uma maneira tão leve. O amor vinha sempre com uma carga de sofrimento. Era mais sobre a dor do que sobre o amor. E aqui não. Este casamento com a Luedji foi muito bonito. Por exemplo, há uma parte da letra que diz: "se for um lugar de mar, eu vou. Se for um deserto, também. Se faz frio ou se faz calor, com você está tudo bem. Com você só faz verão". Quero que este mood me leve. Quero que seja assim para o resto da vida. Que eu consiga essa paz. A paz que faz com que aceitemos melhor os defeitos ou as virtudes do outro.