No primeiro discurso ao público do Altice Arena, depois de já cantadas três músicas, Carminho anunciou que iria dedicar este concerto a Zé Pedro, cuja morte esta quinta-feira tem estado a provocar grande consternação geral.
A voz de Carminho está num plano quase inultrapassável, como deixou bem claro quando fez um solo vocal do fado Meu Amor Marinheiro, que pôs aquele enorme pavilhão de três anéis em sentido.
Mesmo quando acompanhada pelo quarteto de bossanova Banda Nova, neste espetáculo baseado no álbum Carminho Canta Tom Jobim, Carminho continua fadista mesmo que se atreva no sotaque brasileiro. Desta excepcional Banda Nova, o violoncelista Jaques Morelenbaum brilhou quase tanto como Carminho nos vários contornos mais aveludados. O baterista Paulo Braga é um baterista de samba tão bom, que é percussionista ao mesmo tempo. O pianista Daniel Jobim alimenta a erudição à bossanova do seu avô falecido Tom. O homem do violão Paulo Jobim é o falso discreto que controla o combo.
Com esta bossanova engalanada de seda pela Banda Nova, Carminho tinha ainda atrás de si uma enorme tela branca com uma movediça mancha (ou seria uma mão gigante?).
Uma hora depois do início, aparece a convidada especial Marisa Monte para mais um capítulo de amizade entre as duas. A doçura melodiosa de Marisa Monte enche de mimos o canto fadista de Carminho, em Estrada do Sol ou em Chuva no Mar. Já com Marisa Monte de violão, as duas e a Banda Nova interpretam a deliciosa canção dos Tribalistas, Os Peixinhos.
No encore, Carminho arrisca um milagre vocal ainda maior, cantando sem microfone a parte final o fado de Vinicius de Moraes, Saudades do Brasil em Portugal. Mesmo que ouvida ao longe, a cantora fez um fade out vocal impressionante que teria sido o remate perfeito do concerto.
Dia 2, é a vez do público do Multiusos de Guimarães assistir a este espetáculo de monta.
