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Marés Vivas de funk com os Jamiroquai

Grande concerto da banda de Jay Kay no festival gaiense. Manel Cruz apresentou as canções novas. Os Goo Goo Dolls não se esqueceram de tocar Iris.

Marés Vivas de funk com os Jamiroquai
Joana Baptista

Os Jamiroquai deram um impressionante espetáculo esta noite no Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia - festival que conta com um novo recinto, mais espaçoso e largo, a poucas centenas de metros do anterior local do evento.

O funk espacial da banda britânica foi um convite permanente a dançar. O vocalista Jay Kay apresentou-se como sempre foi, com o seu fato de treino e a sua espécie de capacete luminoso (ou chamemos-lhe de chapéu?) em forma de estrela, o mesmo que se via numa jovem fã no meio do público - onde se comprará este artefacto? A diferença de Jay Kay era a barriguinha que não se lhe via há uns anos. Mas, mais gordo ou não, Jay Kay é o epicentro de uma banda em boa forma, desde o momento em que subiu a palco. Os 11 membros em palcos não faziam apenas número, davam festa, desde que 'Shake It On' abriu a actuação de hora e meia.

As canções são de curtas palavras mas simples e eficazes, sempre com convites sugestivos ao par desejado para uma noite especial. Por vezes, a permanente festa dos Jamiroquai tem uma recaída na salsa, com uma descida no mapa do imaginário da América do Norte para o universo da América latina. Noutras ocasiões sobressai um cheirinho a jazz, sobretudo nos teclados, como ocorreu em 'Runnaway'. Mas há também disco-sound, como num dos temas novos, 'Superfresh', com o trio feminino nos coros a brilhar ainda mais no intercâmbio vivo com Jay Kay.

'Cosmic Girl' faz o público aparecer em peso para cantar o refrão, talvez o tema mais reconhecível de uma noite que foi de grandes vibrações. Os Jamiroquai ainda são uma grande banda, foi o que nos lembraram no Marés Vivas. 

Coube a um filho pródigo da terra, o portuense Manel Cruz, inaugurar a ação do palco principal do Marés Vivas. Ao fim de mais de vinte anos a dar-nos discos com gente diversa, o futuro do rock português ainda passa por ele. Acompanhado de mais três músicos desalinhados, está reinventar-se pela 325ª vez, desta vez com o seu álbum em nome individual "Cães e Ossos", de que fomos ouvindo algumas canções, num concerto de uma hora que se tornou num pequeno trajeto biográfico, que incluiu temas de outros projetos seus como os Foge Foge Bandido, os Pluto e, para alegria do povo, os Ornatos Violeta, tendo Manel Cruz recuperado o 'Capitão Romance', o tal tema onde Gordon Gano dos Violent Femmes tinha cantado (no álbum de 1999 "O Monstro Precisa de Amigos"). Manel Cruz foi tocando vários instrumentos como o banjo ou o cavaquinho. E socorreu-se sarcasticamente de um sample de um discurso do ex-Presidente da República, Cavaco Silva, a discursar a favor do empreendedorismo. Como é seu hábito, terminou o concerto de peito nu, apesar da corrente fria do mar. A estagnação continua a ser uma palavra que Manel Cruz não conhece.

Viagem mais intensa aos anos 90 foi feita pelos muito simpáticos Goo Goo Dolls, em especial o tema de 1998 que é mais conhecido que eles próprios, 'Iris'. Para acabar o concerto de forma gloriosa, só havia uma opção: tocarem Iris. Aí os telemóveis levantaram-se para captarem o momento e o guitarrista e vocalista Johnny Rzeznik pôde arriscar a passar o microfone para o público que daria conta do recado. Antes, foram realçando o facto deste concerto ser a estreia ao vivo do grupo norte-americano em Portugal, chegando Rzeznik a apelidar os portugueses de sexy. Por uma questão de estatuto, a frente do palco foi dos dois membros fundadores, Johnny Rzeznik e o baixista Robby Takac (a atuar de meias grossas, sem sapatos), deixando na retaguarda os seus restantes três músicos. Mostraram os seus 30 anos de história em uma hora de atuação, mas para muitos daqueles espetadores, foi como se nunca tivessem existido. Exceto 'Iris'.