Era 1h23 quando David Guetta aparece em palco e pergunta ao público: "are you ready?" Explode rapidamente um espetáculo luminotécnico de grande dimensão, com o DJ francês no cimo da estrutura de vários metros, onde tem o seu arsenal de programações e de gira-discos. A loucura ficou instalada em todo o recinto, por duas horas a maior discoteca de todo o país, no dia com melhor número de público.
A iniciar a ação no Palco MEO deste segundo dia do Marés Vivas esteve a grávida Carolina Deslandes que se comoveu com a receção do público do Grande Porto, ao ponto de chorar, depois de interpretar 'Heaven', escrita no dia da morte do seu avô, tal como recordou. Desta comoção íntima à vista no Marés Vivas, fez parte o pai do rebento e seu companheiro, o guitarrista Diogo Clemente, que participou em duas músicas, uma delas em dueto em a 'Coisa Mais Bonita'. Desse ninho familiar, cantou 'A Vida Toda', onde se voltou a emocionar, com Diogo Clemente na guitarra acústica. No seu concerto bilingue (a outra língua recorrente foi o inglês), elogiou muito a assistência: "Não há público como no norte”. Sem Rui Veloso, Carolina Deslandes faz o dueto de 'Avião de Papel' com o público nortenho, o mesmo que diz que a faz sentir em "Casa", o título do seu terceiro e novo disco.
Acompanhada por mais cinco músicos, incluindo uma clarinetista e um contrabaixista, Carolina Deslandes faz dois medleys: o primeiro dos anos 90 com temas de Britney Spears, Da Weasel e Ornatos Violeta, mas com guinadas para espaços mais jazzísticos; o segundo medley pesca no reportório de Sia e Dua Lipa, com um pedido de mais mulheres nos cartazes de festivais.
Também dados a medleys, os Black Mamba foram ao Soul Hall of Fame, para viajarem no reportório de Marvin Gaye em 'I Heard You Through the Grapevine', 'Let's Get It On' e até fragmentos de 'Sexual Healing'. E pegam ainda em 'Move On Up' de Curtis Mayfield.
O vocalista Pedro Tatanka tocou com o seu habitual chapéu de vilão de westerns. É dono de uma voz impecável, bem afinada com os temperos da soul, e bem talentoso na guitarra elétrica, que facilmente a leva para o funk. Faz parte do seu show mandar palavras de incentivo em inglês. E não descansou enquanto não viu ondas de telemóveis a abanar no ar durante algumas baladas.
Dos nove músicos em palco, com duplas de metais e dos coros e um percussionista, destacou-se o saxofonista Ricardo Branco, sempre a dar brio às atmosferas americanas da banda nacional. Foram tocadas algumas das novas canções que vão integrar o próximo álbum do grupo, a sair em setembro. Pedro Tatanka foi recordando muito o concerto no antigo recinto do festival em 2015, e em homenagem a um dos momentos altos dessa atuação, fecharam o concerto com 'Wonder Why', não sem antes se despedirem com uma foto com o público atrás, para as redes sociais.
Outros regressados ao Marés Vivas eram os irlandeses Kodaline, que esta noite alargaram o leque de boas memórias por cá. Comovido com o nosso público, o vocalista Steve Garrigan pede para pegar na bandeira portuguesa da fila da frente e exibe-a, embora a tenha exposto ao contrário. Chegou a elogiar Portugal como o melhor local do mundo. E nesta troca de afetos, tocou 'The One', a satisfazer o pedido de uma Sónia e do seu marido. Antes, o quarteto irlandês tocou a mais popular 'High Hopes', com Steve Garrigan nas teclas. Muitas mulheres sobem então às cavalitas, outras cantam exclamativamente, enquanto casais de namorados se apertam mais durante o momento.
O concerto de 70 minutos ficou também marcado pelas canções novas que fazem parte do próximo álbum, "Politics of Living". Houve folk-rock limpinho ao estilo dos Mumford & Sons e uma carteira de canções que dariam jeito aos Coldplay. Foram ainda usando pequenos artifícios - a preparar um dia espetáculos maiores - como uma pequena explosão de confetti, chamas que irromperam no palco ou fumos vindos da zona de fosso dos fotógrafos.