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Jessie Ware a fazer a vida boa acontecer no EDP Cool Jazz

Depois de dois álbuns de soul-pop discreto que se destacaram, "Glasshouse" mereceu honras de destaque no EDP Cool Jazz.

Jessie Ware a fazer a vida boa acontecer no EDP Cool Jazz

Jessie Ware deu na noite desta quinta-feira um concerto absolutamente arrebatador no EDP Cool Jazz no parque Marechal Carmona, em Cascais. Depois de duas atuações canceladas, a cantora inglesa veio cumprir com a máxima de "às três é de vez" e tratou-nos como há muito tempo não acontecia em festivais de verão.

Na primeira parte conhecemos Jordan Rakei. O neozelandês, de 26 anos, tem dois álbuns lançados e a Cascais trouxe uma seleção que oscilou entre ambos. Tudo começou com 'Eye To Eye', perante a grande expectativa deste público que também gosta de conhecer músicos novos. Pouco depois, com 'Add The Bassline', já se percebia que estava a conquistar fãs e, com algum à vontade, a conversa começou a surgir com agradecimentos e felicidades.

Atrás de um teclado, Rakei vagueia entre a soul e o jazz que já o levou a alguns festivais temáticos este verão. Temos direito a 'Wildfire', música nova e, menos de uma hora depois, o fecho com 'Sorceress', com a noite a cair em Cascais e a obrigar aos costumeiros casaquinhos pelas costas.

Com Jessie Ware a chegar uns 20 minutinhos atrasada, a maior parte do tempo tivemos direito à sua voz perfeita, que pinga com a alma, e agora, ao contrário do que denotava um pouco nas suas primeiras atuações, nada nervosa entre as músicas. Três álbuns profundos depois, há uma grande diferença entre a Jessie Ware de 2012 e a Jessie Ware de 2018 - que não deixa margem para qualquer dúvida sobre o seu enorme talento e toque de magia e mística que tem.

A viagem começa com 'Sam', do mais recente álbum, "Glasshouse", e fala-nos da recém maternidade da cantora que, não tendo dado nas vistas durante a gravidez ou ter feito questão de mostrar a bebé, também não esconde que está a viver esse momento que a está a marcar profundamente. Seguiu-se 'Your Domino', também daqui.

Jessie parece não ter filtro, não finge ser quem não é, não recorre a pestanas postiças para fingir um encantamento que não lhe pertence. A beleza dela, é muito maior, muito mais intensa e brota do interior do Ser Humano controverso que, em fotografias e vídeos, se mostra sério e distante para, em palco, se rir à gargalhada e fazer humor.

'Running', o tema que a deu a conhecer ao mundo, e 'Champagne Kisses' do álbum de 2014, "Tough Love", foram os temas seguintes. Os cinco músicos que a acompanham ajudam a criar a tal áurea de mistério que a envolve e as suas intervenções são uma delícia: "Este é o sítio mais lindo onde já tocámos. Muito romântico... obrigada por terem esperado por mim e por estarem aqui".

'Alone' e 'Selfish Love' continuam a mostrar que o mais recente disco permanece na mesma onda pela qual nos apaixonámos e nesta sequência do concerto ainda se destaca 'No To Love', de 2012, que conta com umas backing vocals guturais. Com 'Finally', uma versão de Kings of Tomorrow, Jessie Ware sai da sua zona de conforto para nos brindar com um beat mais dançável, muito invulgar nela, mas que desfaz todas as dúvidas sobre a sua imensa capacidade vocal e encanto enquanto artista versátil que, muito provavelmente, é nos seus devaneios mais íntimos.

A noite estava magnífica, com a lua a brilhar enorme antecipando-se ao eclipse desta sexta-feira, que a vai tornar vermelha. Muito público a rir, muita gente relaxada e alegre numa atmosfera que só Jessie Ware pode criar mesmo estando num palco pequeno, sem quaisquer proteções laterais ou no topo, a fazer lembrar os primórdios dos festivais em Portugal ou uma popular festa de aldeia. É um equilíbrio único que esta menina-mulher consegue com muito profissionalismo elegante na sua performance, ao mesmo tempo que mantém uma relação bem humorada e terna com o público. 'Last Of The True Believers' vem ao encontro deste estado de espírito contemplativo.
    
Vestida num fato intrigante, metade preto, metade branco, o seu estilo de Pierrot tinha umas mangas muito largas e fluídas que, quando abria os braços, lhe davam um efeito de quase borboleta a abrir as suas asas. A única diferença é que esta faz questão de estar sempre em cima de elegantes stilletos mesmo que não esconda que a deixam mais cansada e com vontade de se sentar.

Com o concerto a chegar ao final vêm os grandes trunfos sem encore: 'Midnight', 'Want Your Feeling', 'Say You Love Me' e 'Wildest Moments', uma ode às relações de melhores amigas sem a estridência da pop ou o pisar de linha vermelha do rock.

Numa altura em tanto se faz o apelo do alternativo só para se ser diferente e nascem cantores YouTubers como cogumelos ao ar livre, fica esta lição de Jessie Ware: cantar é isto.