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Ed Sheeran: o poder da simplicidade

Só em palco, fez do Estádio da Luz um estádio de luzes (de telemóveis no ar) durante as muitas canções íntimas que cantou. Este domingo há mais.

Ed Sheeran: o poder da simplicidade

Chamam de megaconcerto àquilo de que está incumbido Ed Sheeran. Mas esqueçam as chamas gigantes e demais efeitos espalhafatosos em concertos desta dimensão. Ed Sheeran entrou da forma mais simples possível, sem grandes aparatos, para estar só em palco, apenas com a sua guitarra acústica. Poderia estar a cantar no meio da rua, mas estava a tocar mesmo no Estádio da Luz, completamente lotado. 

Tem um ar de garoto, imune a vedetismos, com aquele cabelo e barba fortemente ruivos, e com uma camisola de manga curta que deixava ver bem as suas tatuagens. No entanto, tem mais um Euromilhões à espera, quando completar a digressão de estádios. O álbum mais recente que o traz cá tem a simbologia matemática da conta de divisão, geralmente uma operação fácil para o músico. Como não tem instrumentistas a quem pagar, o dividendo da receita total da turné vai ter quase como único divisor o próprio Ed Sheeran.  

A sua solidão em palco num estádio tão grande e cheio como a Luz requer uma coragem, digna de um equilibrista sem rede. Tudo passa por ele e mais ninguém. O concerto começa às 20h59, com Castle on the Hill. Ao segundo tema, Eraser, Ed Sheeran resolve ampliar o seu espaço de acção num palco nada extravagante - o ecrã espalhado por várias telas verticais é a única doideira, e para fins de visibilidade muito práticos. Dança com a guitarra, sampla o dedilhado e o batuque na madeira do instrumento, e transforma-se em rapper lá ao seu estilo. 

"Obrigada", diz Ed Sheeran que pede desculpas por ter demorado sete anos a voltar a tocar em Portugal, sublinhando repetidamente que estes dois concertos no Estádio da Luz são seus os primeiros em nome próprio no nosso país. A noite começa a cair e isso nota-se particularmente em The A Team, balada que pede um estádio inteiro estrelado por telemóveis no ar, como se fossem milhares de pirilampos a dançar. Sheeran, apesar de novo, também conhece uns truques de showbiz. Desafiou as dezenas de milhares de espectadores a gritarem o máximo que pudessem, num pré-aquecimento para fazer de Dive uma interpretação ainda mais especial, coreografada pela multidão com uma ondulação de braços no ar. Em Bloodstream, o palco escurece e a imagem do ruivinho avermelha ainda mais com chamas atrás. 

"Vocês são o público mais ruidoso da Europa", refere Ed Sheeran. Não sabemos bem se está a dizer o que pensa mas que é simpático, isso ninguém nega. Porém, a mensagem tinha um intuito competitivo: tentarmos ser tão silenciosos quanto os japoneses, só para criar o ambiente (esperto, o Sheeran) para o intimista Tenerife Sea, quase uma canção de embalo, a pedir um silêncio que nem todos respeitaram - Japão, esse vosso título de serem os mais silenciosos mantém-se. 

Houve ainda um pequeno medley - Lego House / Kiss Me / Give Me Love - e um bem festivo Galway Girl, com a imagem em movimento do cantor emoldurada num recorte de jornal com o título de Ed Sheeran live on Grafton Street, no único momento um bocadinho mais exuberante daquelas telas. 

Às 22h07, o ruivo mais popular do planeta pega pela primeira vez na guitarra eléctrica, para tocar Thinking Out Loud e cantá-lo com o público. Em Photograph, quase que entramos na sua sala de estar, com imagens desfocadas de Sheeran em criança. Já passou mais de uma hora de concerto, mas o público ainda não perdeu o fôlego, nem os pirilampos luminosos pararam de dançar no ar, desta vez por causa de Perfect. Nancy Miullighan é cantilena mais folk, mas cheia de vida.  Para rematar, Michael Jackson dá sinais de vida, na voz em falsete de Ed, para interpretar Sing 

Ed Sheeran regressa rapidamente ao palco, vestido com a camisola da seleção das quinas, o que provocou logo gritos da populaça por "Portugal, Portugal". O mundialmente conhecido Shape of You e o rap de You Need Me, I Don't Need You dão corpo ao único encore. Ed Sheeran sai de forma tão simples do estádio que parece que vai apanhar o metro no Alto dos Moinhos. Parece um homem como nós. 

 

Antes, o dia no Estádio da Luz parecia um festival de música. Vindo do Porto, onde tinha atuado no Hard Club na noite antes, James Bay deu mais blues que folk à sua pop (ao contrário de Ed Sheeran). De ar bem informal, de t-shirt e de cabelo comprido, o músico inglês soube liderar um quinteto bem fino no trabalho cuidado com as guitarras eléctricas. 

Apenas pop, sem blues ou folk à mistura, apresentou-se durante a tarde a Barbie loirinha Zara Larsson, quando as bancadas mal compostas faziam lembrar as molduras humanas de um jogo da Taça da Liga, embora o relvado já fosse um amontoado denso de cabecinhas, sem clareiras. Foi a atuação do dia com mais gente em palco, com tantas dançarinas quanto músicos - quatro para cada lado.