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Catarina Oliveira

Era o que Faltava

Temporada 3

22 outubro, 2021

Catarina Oliveira

Uma conversa que esclarece tabus, quebra estigmas e explica conceitos!

"Entendo que as pessoas percebam que eu tenho que ultrapassar obstáculos, mas isso invalida as minhas conquistas"

Foi aos 27 anos, enquanto visitava uns amigos no Brasil, que descobriu que tinha uma mielite transversa, que veio impedi-la de andar. Passado um mês e meio internada noutro continente, Catarina Oliveira volta para Portugal e enfrenta a nova realidade. Para além de ter-se apercebido rapidamente da falta de rampas e outras estruturas para pessoas com mobilidade reduzida, Catarina também notou a falta de conhecimento da sociedade: “Em primeiro lugar, há muita gente que acha que nós, pessoas com deficiência, somos assexuados. Depois também há a questão da reprodução, outro mito. Também há pessoas que acham que a deficiência é hereditária, eu até brinquei uma vez num vídeo a dizer que todos os meus filhos vão sair de mim já com cadeira de rodas. Depois há aquele mito de que nós somos hipersexuados, ou seja, pessoas com deficiência intelectual, que às vezes não se expressam de uma forma padrão, então as pessoas vêm aquilo como algo perverso. Isto tudo, os mitos, vem muito do desconhecimento total.”

Ao explorar este tema, a falta de informação da sociedade, a ex estudante de medicina explica que existe um termo muito importante: o capacitismo. Mas o que quer dizer? “É a discriminação contra a pessoa com deficiência. Isso está transversal à nossa sociedade em muitos pontos. Ou seja, está nas barreiras físicas, mas está também nas atitudes e para mim essa é a maior barreira". Catarina Oliveira explica que para estas pessoas, os capacitistas, “as pessoas com deficiência geralmente estão em dois polos, das duas uma: ou ‘a Catarina é uma pobrezinha, que pena ela estar numa cadeira de rodas’ ou então sou o máximo, sou uma inspiração, sou uma guerreira porque estou a cortar uma cebola em casa, ou porque tenho um filho, ou porque conduzo. Está tudo bem, obviamente que entendo que as pessoas percebem que eu tenho que ultrapassar obstáculos, mas isso invalida as minhas conquistas, estão sempre associadas à minha deficiência”.

Nas redes sociais, Catarina Oliveira é bastante vocal no que diz respeito a pessoas com deficiência, na biografia lê-se “Por cada vez que pensares que o meu maior desejo é voltar a andar, constrói uma rampa. Agradeço”. Ficou conhecida no Instagram como a “Espécie Rara Sobre Raras”. “Eu uso o humor como ferramenta de educação. E essa questão da “Espécie Rara sobre Rodas” foi um bocadinho isso. Hoje em dia já não reparo nisso, mas no início, em qualquer sítio onde entrava sentia realmente que as pessoas me olhavam como se eu fosse uma espécie rara. Depois há pessoas que tentam disfarçar e outras nem tanto, então eu comecei a brincar no Instagram a dizer: “sinto-me uma espécie rara” e o pessoal que me seguia começou também a usar esse termo. Então eu pensei: pronto, vou ser a espécie rara sobre rodas!